O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Desejo

Como sempre, uma literatura de fim de ano:


Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar. 


Victor Hugo

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Econômetro

Lembro quando, logo no início do plano real, pegava ônibus com mamãe e pagava R$ 0,30 pela passagem.

E foi aumentando, aumentando, aumentando... E o serviço foi piorando, piorando, piorando...

Hoje pagamos R$ 2,20 pra andar num ônibus sem ar condicionado. E R$ 2,50 num com ar.O engraçado é que os de R$ 2,50 só circulam no inverno.

Não faz dois anos a Câmara dos Vereadores do Rio aprovou a prorrogação da concessão da maioria das empresas de transporte rodoviário urbano sem licitação. E cada uma dessas empresas tem umas três linhas que fazem o mesmo itinerário. Sei que pra bom entendedor meia palavra basta, mas nunca é demais ser textual: não há concorrência entre as empresas.

O metrô, vergonhosamente, tem duas linhas ridículas e há pouco tempo implantou um sistema de cobranças pelo qual você só pode comprar antecipadamente suas passagens se usar o metrô todo dia. Se não, corre o risco de perder o dinheiro gasto, porque o bilhete tem validade de dois dias.

Tudo isso, é bom dizer, pra esperar pelo menos quatro minutos entre uma composição e outra (em São Paulo, por exemplo, é um minuto de espera) e pelo menos quatro composições passarem pra você conseguir entrar numa lata de sardinha pra ir pra casa depois de um dia de trabalho.

Semana passada foi um desastre, e hoje parece que foi pior: inauguraram a linha direta Pavuna-Botafogo... mas os passageiros só iam até a Glória! Uma amiga minha ficou meia hora presa entre duas estações.

Isso sem falar naquele Riocard, que tem meia dúzia de postos de recarga e um recadastramento absurdo, que deixa aluno sem aula, idoso a pé e gestante com dor nas costas. E não falei dos cadeirantes... Em suma, disseram que o Riocard era pra facilitar a vida do cidadão, mas na prática mesmo só serve pra controlar a gratuidade.

E agora vem esta proposta de bilhete único intermunicipal do governo do Estado: R$ 4,40 (pasmem, já descontados os subsídios do Estado) pra andar em no máximo duas modalidades, com direito a no máximo duas viagens por dia com no mínimo uma hora de intervalo cada uma. Ou seja, se o sujeito quiser resolver suas pendências burocráticas, por exemplo, vai ter que pagar R$ 4,40 mais uma passagem de cada vez.

Depois perguntam por que esta cidade tá parada, por que a área portuária e a cidade nova estão abandonadas... Me explica como desnvolver economicamente uma cidade sem política de transporte público?

Afê!


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Copenhague (moral da história)


Parem o mundo que eu quero descer antes do ponto final!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Na casa e no transporte público... mas na biblioteca não.


Se você quer ler no Rio fora do seu horário de expediente, possui duas opções:

1. sua cabeceira - ótimo para leituras de passatempo antes da soneca, depois do banho e do jantar; não possui horário-limte (só o seu mesmo).
2. o metrô - excelente opção para aproveitar aquele tempinho vago mas não tão vago e estudar (concurseiros e universitários de plantão, agarrem com força!).

Biblioteca? No Centro da cidade e em uma meia dúzia de bairros onde haja uma das poucas universidades privadas que levam a qualidade do ensino minimamente a sério você encontra outra meia dúzia de bibliotecas abertas entre 8:00 e 22:00. Mas elas fecham nos fins de semana. Universidade Pública? Também só de segunda a sexta. Horário mínimo: 9 da manhã. Horário máximo: 8 da noite.

Não há opção. Mesmo os centros culturais não abrem exceção ao horário de expediente para as bibliotecas, que acabam funcionando das 10:00 às 18:00, no máximo - pode procurar, passei duas hora na internet pesquisando.

Portanto, concurseiros, não trabalhem se não tiverem paz em casa para estudar (e isso é muito comum). Portanto, acadêmicos, tentem uma bolsinha mixaria daquelas do CNPq ou da CAPES para produzir alguma coisa. Só assim estarão livres para aquelas leituras que só se fazem nas bibliotecas.

PS: outro dia mesmo saiu reportagem sobre o hábito raro de leitura do brasileiro. As estatísticas são coincidência?

terça-feira, 24 de novembro de 2009


Jorge Machi

Agora diga. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Visitando minha amiga do gato amestrado (link ao lado), lembrei do Arcade Fire, que não ouvia há algum tempo. Como gosto muito deles, fui pro youtube procurar outras coisas. Taí aí outra música que gosta muito: Wake up. Este aí é com David Bowie.

domingo, 15 de novembro de 2009

No sonho esta noite
Vi um grande temporal.
Ele atingiu os andaimes
Curvou a viga feita
A de ferro.
Mas o que era de madeira
Dobrou-se e ficou.


Bertold Brecht

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Da dança que extasia qualquer eu,
No caminho fez-se o medo pelo breu.
A casa, no térreo, se envolveu
Na ausência de um cão que faleceu.

Pavor de silêncio e de barulho
desvia no banho em que mergulho,
mas retorna na iminência de um esbulho.

Quando penso que está quase no final,
o telefone queda sem sinal.
E a notícia que se alastra soa mal:
espalha como o breu num vendaval.

A paz alivia o coração
quando enfim se esvai a solidão:
a mãe, o pai e um irmão.

Paz que não compensa este pavor,
mas permite, com todo o calor,
que se sonhe sob o amparo do amor.

domingo, 8 de novembro de 2009

É isso aí!


Vimos This is it, o documentário que a produtora do megashow do Michael Jackson montou para tentar cobrir os rombos decorrentes da morte dele.

Tá, eu sei, sou suspeita pra falar. Por isso mesmo, e para não parecer piegas demais, vão aí resumidamente algumas conclusões a respeito do show, da equipe e do artista:

1) o show ia ser animal!;

2) imagine os maiores sucessos do Michael sendo tocados com os mesmos arranjos musicais dos álbuns, com o mesmo formato de vídeo, mas com uma produção atualizada à tecnologia do século XXI, tipo pirotecnia, multiplicação gráfica de pessoas, aranha gigante, o Michael saindo de um robozinho, etc... o show era bem isso.

3) o Michael estava dançando melhor do que quando lançou o último álbum, Invincible,em que ele gravou o videoclipe You Rock My World, o pior da carreira dele;

4) se você sempre pensou que o Michael era perfeccionista... ele era mil vezes mais;

5) na equipe, além do Ortega, estavam os melhores bailarinos de rua do mundo e uns músicos do c...;

6) nunca aprove uma nota ou um tecido de figurino ou um recurso digital qualquer sem falar com o homem: você pode levar um esporro;

7) não queira levar um esporro do Michael... principalmente se ele disser que é por amor ("i´m saying for love, l-o-v-e, love!");

8) não acredito que ele morreu antes de eu ver um show dele.

Assistam ao filme. Não há pieguices. Mostra o Michael como ele era, com defeitos e virtudes, manias e desprendimentos. Vale a pena.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Minha vida, meu minuto de vida.
Minuta da minha vida.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A cena


Faz pouco quebramos a cabeça com a santa ceia. Mil peças, uma por uma, encaixadas ao longo de uma semana tormentosa.
Não sou dada aos ensinamentos bíblicos - nunca os li de verdade - e creio penso até que, de regra, minha mania de enxergar o mundo historicamente jamais me permitiria ver naquela cena algo além de um quadro que, ao longo de muitos anos, assumiu variadas interpretações.
A minha sempre foi a de um homem que prenunciou subversivamente, antes mesmo do mercantilismo, o manifesto de 1848.
Que digam os políticos, historiadores, filósofos, teólogos e afins que é isso?! heresia histórica, epistemológica, paradigmática! Penso mesmo que a história se repete, embora, é verdade, de maneiras distintas.
Que digam os religiosos que é isso?! heresia! A eles, que têm o direito de crer, tenho procurado incessantemente uma justificativa.
E nessa busca talvez tenha encontrado naquela cena algo além de um objeto de múltiplos olhares.
A diferença entre a cena e o prenunciado manifesto é que, em vez de clamar para que os Homens pegassem em armas, aquele homem repartiu entre eles o pão, esperando e instigando, com o dom da palavra, que fizessem o mesmo.
Está aí a beleza da santa ceia neste mundo de hoje: cada peça, um milésimo da cena; e as peças, unidas umas às outras, a cena inteira, linda como deveria ser.
Chegará o dia em que o prenúncio se concretizará - a igualdade e a solidariedade entre os homens.
Enquanto isso, a cena segue fixada à minha parede e à minha história.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Dear friend


Engana-se quem diz que o homem não é capaz de amar.

Amar é fácil. Tão fácil quanto impor condições ao amor.
É isto o que me entristece: saber que jamais verei no homem um amor incondicional.
Mas é também o que me alivia: lembrar que, dentre tantos homens, fui dos poucos que experimentaram um amor que por nada se interessasse senão por um punhado de comida e um pouco de paz no sono.
Eu, homem, sem amor incondicional, não tive paz no sono: sonhei que você ia num ônibus para bem longe e me abandonava no meio da rua.
Agora eu sei que você subiu de verdade naquele ônibus.
Mas o seu amor, incondicional sempre, guardo dentro de mim... porque sei que na humanidade jamais hei de encontrá-lo outra vez.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Quem disse que mineiro come quieto?

Quinta-feira, Mari ia contando sobre como andava sua vida quando chegamos ao sinal aberto, aquele que se atravessa do fórum até a Av. Erasmo Braga.


- Onde fica o metrô mais próximo daqui?, perguntou uma moça.


Solícita, Mari respondeu que estávamos indo para lá, e a mulher resolveu nos seguir.


Fechado o sinal, começamos a andar, e a moça resmungou:

- Gente, nunca vi trânsito igual!, tudo isso é "só" por causa daquela confusão na Central? – como se a confusão na Central fosse pouca coisa.

- Olha, a Central até ajuda, mas esta cidade é assim mesmo: choveu, para tudo... – respondi.

- Ah, então eu não sei como vocês conseguem morar nesta cidade porque eu não aguentaria porque eu nasci aqui mas fui pra Minas bem nova nunca mais voltei e agora tive que vir pra cá por causa de um evento e eu estou sofrendo aqui porque em Minas não tem esse trânsito agora você vê pra ir pra Jacarepaguá eu tenho que pegar metrô um ônibus em Copacabana e depois outro ônibus na Barra e eu sofro com isso porque em Minas não é assim porque em Minas eu chego em qualquer lugar de ônibus sem perigo nenhum porque essa violência do Rio de Janeiro...


Nisso, interrompi a moça porque Mari  tinha me abandonado pra eu ouvir sozinha aquele monte de ladainha e já estávamos atravessando para o Buraco do Lume quando a moça virou pro lado contrário:


- O metrô é pra cá, senhora.


- Não, vou pegar o ônibus aqui mesmo porque não dá pra pegar metrô ônibus depois outro ônibus porque é muito cansativo pra mim que estou acostumada com Min...


E, conforme íamos nos afastando, não ouvíamos mais aquela voz ao longe. Mas ríamos de longe, porque no Rio, minha senhora... no Rio se ri de tudo. Até do trânsito... e de longe.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Casa dos Mortos

O último post do Antiblog de Criminologia (link ao lado), de Salo de Carvalho, prestigiou o documentário A Casa dos Mortos, da diretora e antropóloga Débora Diniz, que mostra a realidade dos manicômios judiciais.

O roteiro inicial do filme foi adaptado para contemplar um poema de Bubu, que possui uma história de 12 anos de passagens pelos hospitais psiquiátricos, escrito simultaneamente às filmagens.

A película é curta, mas objetiva e sensível.

Valia postar o vídeo e o poema, logo abaixo.

 

A Casa dos Mortos
Bubu

A casa dos mortos
das mortes sem batidas de sino.
- Cena 1 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;
é que aqui é a casa dos mortos!
***
A casa dos mortos
das overdoses usuais e ditas legais.
- Cena 2 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;
é que aqui é a casa dos mortos!
***
A casa dos mortos
das vidas sem câmbios lá fora.
- Cena 3 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;

é que aqui é a casa dos mortos!
***
Prá começo de conversa, são 3 cenas,
são 3 cenas anteriores e posteriores
às minhas 12 passagens
pelas casas dos mortos,
que são os manicômios;
- tenho - digamos assim ! -
surtos de loucura existencial brejinhótica,
relativos à minha cidade natal,
Oliveira dos Brejinhos - Bahia - Brasil;
voltando às cenas:
... cenas que, por si sós,
deveriam envergonhar os ditames legais
das processualísticas penais e manicomiais;
mas, aqui é a realidade manicomial!
***
Pois, bem: são 3 cenas,
são três cenas repetidas e repetitivas
de um ritual satânico-sacro
com poucos equivalentes comparados de terror,
cujo estoque self-made in world
é o medicamentoso entupir de remédios,

o qual se esquece de que
A Era Prozac
das pílulas da felicidade
não produz A Era da Felicidade
da nossa almática essência de liberdade;
mas, aqui é a realidade manicomial!

***
E, ainda sobre as 3 cenas:
são 3 cenas de um mesmo filme-documentário:
Cena 1, das mortes sem batidas de sino;
Cena 2, das overdoses usuais e ditas legais;
Cena 3, das vidas sem câmbios lá fora
- que se reescrevam, então,
Os Infernos de Dante Alighieri;
mas, aqui é a realidade manicomial!
***

Reporto-me às palavras de um douto inconteste,
um doutor que rompeu o silêncio,
o jornalista Jânio de Freitas,
do jornal A Folha de São Paulo:
"A psiquiatria é a mais atrasada das ciências"
- Parafraseio Jânio de Freitas
porque a casa dos mortos,
que é a metáfora arquitetônica
pela qual designo a psiquiatria,
pede que se fale
contra si mesma!
***
E, por falar, também, em lucidez,
sou lúcido e translúcido:
a colunista-articulista Danuza Leão,
no jornal baiano A Tarde, explica:
"Lucidez é reconhecer
a sua própria realidade,
mesmo que isso lhe traga sofrimentos."
Mas, qual, ó Bubu!:
isto aqui é a casa dos mortos,
e, na casa dos mortos,
quem tem um olho é rei,
porque esta é a máxima e a práxis
da casa dos mortos.
***
Hospital São Vicente de Paulo /
Taguatinga - Distrito Federal - Brasil, abril de 1995:
o laudo a meu respeito (eu Bubu)
é categórico e afirma sinteticamente:
"O senhor Bubu é perfeita e plenamente lúcido!".
Mas, é que lá a psiquiatria é Psiquiatria Federal,
com P maiúsculo,
de propriedade patenteada
e de panteão da civilização;
enquanto que, aqui na Bahia,
a psiquiatria é psiquiatria estadual,
com p minúsculo,
de pôrra-louquice
e de prostíbulo do conceito clínico
(não custa nada afirmar:
eu Bubu fui absolvido
pela Psiquiatria Federal,
e eu Bubu fui condenado
pela psiquiatria estadual
- eis o mote da minha história!)
***
Isto é um veredicto!
- tomara que fosse um ultimatum
à casa dos mortos!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Alta

Dolly vem pra casa hoje. Agora torçam para ela querer comer...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Be good...


Minha Dollycão tá no hospital. Torçam por ela...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O que me basta



 Não quero mais a vida.
Quero a vida e um fim de tarde com café no campo, onde eu possa respirar ar puro e plantar tomate na horta.

Mas antes, quero a vida e uma montanha-russa, para encarar o vento e sentir medo de altura, pensar que é ali que a vida acaba e querer viver um pouco mais e melhor.

Quero me perder na noite de Buenos Aires e depois escalar os Andes, atravessar o Pacífico e visitar arquipélagos, depois partir para a Torre Eiffel e para o Coliseu.

Quero a vida e a confusão de sentir saudade e felicidade ao mesmo tempo, viver uma grande paixão, depois um grande amor e aí um grande fim.

Quero ver o sol se pôr no Arpoador, no Pelourinho e em Genipabu, e visitar Yanomamis para ver o mesmo filme ao lado deles.

Quero ser o fim da guerra e o início do paraíso, onde se ganham pão, água, vinho e um templo para orar, seja lá qual for o Deus em que eu acredite.

Quero ver o mar, a terra, as árvores, os pássaros e os peixes, e quero ver o homem na selva... a verdadeira selva, não a que ele construiu.

Quero ir a Angola e colher depoimentos de guerra, ver a reconstrução e andar de transporte coletivo.

Quero sumir da vida das pessoas que conheço e conhecer outras, depois também sumir da vida delas, até sumir do mundo de vez.
Quero ouvir música no ônibus, carregando mochila a pé, e à fogueira numa praia qualquer, em qualquer lugar do mundo, para dançar em volta dela com uns poucos e bons companheiros.

Quero a saga de ser deusa, mas mortal, para me infiltrar nos mitos gregos e fazer deles realidade, ver a tragédia que pode causar o amor e a alegria que pode trazer a esperança.

Quero a vida e um pouco de chocolate, para sentir prazer e ter paladar, porque não se sente mais o sabor das coisas neste mundo.

Quero a vida, beijo e lascívia, pura como o véu e carinhosa como a brisa. Quero a brisa...

Quero a vida, a brisa e um pouco de saúde... porque assim poderei morrer de viver mais do que pude.

domingo, 13 de setembro de 2009

A (des)crente

Sabe, andei descrente do mundo. A moça do morro passou por mim, me deu bom dia, como vai? Fui muito bem até ver a prece em agradecimento por esta “água que eu levo para a casa”. A casa... A casa engraçada, não tinha teto, não tinha nada. E a filha da moça cruzou no meio da conversa, cruzou a linha no telemarketing, me deu bom dia, como vai? e, no fim do dia, não soube abrir o mesmo sorriso, depois do milésimo palavrão burguês e da milionésima açoitada patronal. A moça deu sermão, minha filha, agradeça a Deus, nosso Pastor, pelo emprego que tem. A moça disse: agradeça, não é qualquer um que tem a oportunidade de ouvir palavrões e de ser açoitado! A moça não sabe por que o mundo é assim. Só sabe que é. Ponto. “E agradeça, viu?” Foi então que fiquei descrente do mundo. Andei descrente desde então...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009


Até eu queria saber quem sou agora...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Obrigada a sentir

Sei que não posso compartilhar em demasia do sofrimento alheio.
O tempo tem me ensinado a controlá-lo para que não se transforme na irracionalidade que cega e obsta a solução das coisas.

Mas é justa esta medida do meu sofrimento: a que me faz racional para não me tornar indiferente.

domingo, 16 de agosto de 2009

Guerra no teatro legislativo

Essa briga no Senado está bem interessante. É como se estivéssemos no teatro e a peça não fizesse o menor sentido - ou ao menos é como se achássemos que estivéssemos entendendo alguma coisa, mas não tivéssemos dimensão do recado que ela quer nos dar. O que está por trás da teimosia do Sarney em permanecer na presidência talvez só os historiadores do século XXII descubram. E, se de um lado ele tem o Senado inteiro na mão, de outro os atos secretos são nada do que ele é capaz de fazer e tolerar que se faça. Vide o que ocorreu no Maranhão este ano.

sábado, 15 de agosto de 2009

Na Colômbia?

Parece que o Uribe tá colaborando pro discurso falso da guerra ao narcotráfico. E quem paga o pato? Amanhã, a Amazônia.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Gosto de mim aqui, neste lugar do tempo.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Menina de sorte

Sabe, eu acredito na sorte... Sei que ela polemiza demais... Mas e aquele dia em que você saiu de casa, foi parar num lugar completamente diferente do que tinha planejado e acabou conhecendo o amor da sua vida? Não faltam histórias de executivos que tiveram que adiar uma viagem e escaparam de um acidente trágico. Afora a meia dúzia de números que mudou a vida de meia dúzia de pessoas... É claro que é preciso não dar sorte para o azar. Mas o fato é que mesmo quem tem esse mérito precisa da sorte para (sobre?)viver. E é a ela que eles devem agradecer, todas as noites. Podem chamá-la de Deus, não tem problema. Prefiro nominá-la sorte mesmo, porque não sou supersticiosa nem religiosa: só acredito no que vejo. Deus eu nunca vi. Também não vi o azar depois de passar sob a escada. Mas a sorte?... a sorte eu garanto que vi!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Gone too soon

Like a comet Blazing 'cross the evening sky Gone too soon Like a rainbow Fading in the twinkling of an eye Gone too soon Shiny and sparkly And splendidly bright Here one day Gone one night Like the loss of sunlight On a cloudy afternoon Gone too soon Like a castle Built upon a sandy beach Gone too soon Like a perfect flower That is just beyond your reach Gone too soon Born to amuse, to inspire, to delight Here one day Gone one night Like a sunset Dying with the rising of the moon Gone too soon

terça-feira, 23 de junho de 2009

Tipo

O retrato na porta. A porta no retrato: o retrato da porta. Porta-retrato.

Da rotina do paladar

Gosto de ter que fechar a tampa do tubo da pasta de dente e apagar as luzes quando saio do recinto.
Gosto do seu edredon e do seu travesseiro.
Gosto de te censurar quando ouço suas asneiras à mesa, ao mesmo tempo em que gosto de rir delas.
Gosto de sentir o celular vibrando depois de ter desligado o telefone na sua cara porque liguei a cobrar.
Gosto de não gostar do David Lynch e de ficar cega quando você tampa meus olhos para eu não me assustar com a cena do filme.
Gosto do Keith Haring, do Escher e do Andy Warhol.

Gosto de não gostar de metal e mesmo assim gostar de ouvir Iron Maiden na voz do Bruce Dixon.

Gosto de viajar, de tirar fotos e de ser modelo fotográfico.

Gosto de responder ironias desmedidas e propositais sobre o sistema penal brasileiro e de rir do projeto de república islâmica que você quer implantar como ayatolá no Brasil.
Gosto de não entender nada de vinhos e de degustar aqueles que você escolhe por mim.
Gosto de comer muito e bem.
Gosto de ser censurada quando olho a vitrine de uma loja de sapatos.
Gosto de piscar meus olhos contra os seus, de fazer beijo de borboleta e de dormir de conchinha.
Gosto de ser contrariada quando digo que te amo e de confirmar que não te amo só pra ser contrariada de novo.
Gosto de contorcer o pescoço pra receber carinho e de dar gargalhada quando me atiro em você.

E, se não fosse você, baby, não gostaria de nada disso.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O motorista era diferente. Guiou-o, com a voz, até o assento preferencial do coletivo. Mas a excepcionalidade mesmo veio em esperá-lo sentar antes de dar partida.

No curto percurso de quinhentos metros conservaram sobre sabe-se lá o quê, e logo o ônibus parou, com o freio de mão puxado.

Enquanto me preparava para sair pela porta traseira, o motorista abriu também a dianteira, para onde me dirigi preocupada com o fato de aquele velhinho estar à mercê da ajuda de uma única pessoa.

- O problema é que o mercado fica do outro lado da rua. – disse o motorista.

- Sem problemas. Por favor, me leve até a calçada. Ali consigo alguém para me ajudar a atravessar.

Logo me intrometi e me ofereci a me aventurar.

Não havia sinal de trânsito. E levá-lo até um seria ainda mais perigoso, com aqueles passinhos de formiga.

Ele me viu. Sei que me viu, quando me perguntou se me importaria caso acendesse um cigarro. Tanto me viu, que compreendeu que não fumo.

Respondi que tudo bem.

E ali ficamos esperando os vários momentos em que os carros estavam ao longe, mas não o suficiente para atravessarmos com os passinhos de formiga.

Quando o toco de cigarro caiu ao chão, alma do bem percebeu nossa dificuldade e se dispôs a ajudá-lo.

E ele estava em melhores mãos quando o deixei...

domingo, 14 de junho de 2009

Para... ódia!

Para evitar gravidez, diane 35 Para emagrecer, salada Para inflamação, gynben e unygin Para manchinhas, glyquin Para o sol, redermic 15 Para alergia, nasonex Para crise alérgica, desalex OBS: Tudo isso no auge dos 24 anos...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Procurando um canto onde possa cantar um conto de vida...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Da rotina do deserto

Depois da rotineira e ríspida discussão sobre o porvir político e pequeno que desejava, ela atravessaria atordoada um campo repleto de gatos. Os gatos procriar-se-iam em crescente exponencial a cada dia, mas ela não perceberia a diferença dos números. A beleza das árvores, dos lagos, dos peixes, dos perus, dos pavões, das cotias, dos patos e das pontes não se esconderia jamais atrás do descuido do poder público. A travessia, porém, seria alheia a tudo. Terminaria num deserto de comerciantes que imporiam a qualidade de seus produtos na voz. Seriam tantas as vozes, roucas, plenas, agudas, graves, fanhas, molecas, sérias... Vozes de rádio fazendo marketing primitivo. Mas nenhuma delas se sobreporia às das cenas das rotineiras e ríspidas discussões sobre o porvir político e pequeno que desejava. Ela passaria por predinhos antigos, com fachadas destruídas e restauradas. Neles, porém, enxergaria um dedo em riste contra sua cara. Pararia à frente de restaurantes com odor de gordura, mas o cheiro de mofo das instalações do centro acadêmico ainda impregnariam sua memória. Esbarraria em mulheres vestidas a veludo. Só o que poderia sentir na pele, contudo, seria o suor nas pernas provocado pelo couro do sofá.
Provaria uma especiaria oferecida por um vendedor, mas o gosto da adrenalina misturada à saliva esconderia o ardor da pimenta
Ela atravessaria aquele deserto todos os dias. Todos os dias no deserto à sua volta e no oásis dos seus pensamentos.
Tão alheia a tudo que só poderia se dar conta anos depois, quando passaria por ali e perceberia como havia triplicado o número de gatos naquele campo, como os predinhos eram graciosos - e que pena que estariam tão destruídos -, como aquelas vozes a irritariam, como o cheiro de gordura lhe provocaria ânsia, como se esbarrariam com frequência as pessoas por ali.
Finalmente, provaria uma pimenta deliciosa e, sem titubear, levraria um frasco à casa.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Ficção ou realidade?

Foram estas as palavras que Gabriel García Marquez atribuiu ao general Moncada, quando, sentenciado à morte, foi indagado por Aureliano Buendía, com quem trocou segredos de guerra do lado oposto, se não teria feito o mesmo contra ele caso os conservadores estivessem no comando do então município de Macondo:
"Provavelmente. Mas o que me preocupa não é que me fuzile, porque ao fim e ao cabo, para pessoas como nós esta é a morte natural. O que me preocupa é que de tanto odiar os militares, de tanto combatê-los, de tanto pensar neles, acabou se tornando como um deles. E não há um ideal na vida que mereça tanta abjeção. Neste passo, não só será o ditador mais despótico e sanguinário de nossa história, mas acabará fuzilando minha comadre Úrsula tratando de apaziguar sua consciência."
Lembrando que Úrsula é mãe do coronel Aureliano e contrária ao fuzilamento.
Alguma coincidência com a realidade?

domingo, 17 de maio de 2009

Ai,ai...

Tô precisando estudar. Alguém aí dá uma força?

sábado, 9 de maio de 2009

Conheceram-se numa boate em São Paulo. Ele mauricinho, dizendo que trabalhava em banco. Ela arrumada, dizendo que tinha namorado. Não faria diferença, ele estava interessado em outra mulher. Mas no dia seguinte a procurou. Ela já sabia o que queria da vida e não tinha paciência para cantadas inúteis. Mesmo assim, ele esteve no Rio de Janeiro, no carnaval. Queria encontrá-la, mas mal conseguiu. Ela também não tinha saco para encontros casuais. Ele voltou à garoa, e ela nem tinha saído do lugar. Enquanto ela bebia cerveja no centro da cidade, num papo revolucionário sobre exploração bancária da população de baixa renda, ele bebia vinho na Vila Madalena, explicando como o spread havia aumentado e a inadimplência diminuído, mesmo com as taxas lá em cima. Ele voltou para o Rio, mas evitou o papo do spread. Preferiu falar de comunismo e mostrar que gostava da Lapa. Ela curtiu um pouco e voltou a São Paulo no fim do ano. Não deixava de estar decidida, mas desta vez ela queria. Estava, porém, desistida. Ainda assim, ele a levou a uma pizzaria, onde encontraria alguns amigos malucos e/ou divertidos. Depois sugeriria uma balada. Ela acompanhou a noite. O amigo os deixou sozinhos. E sozinhos eles foram embora...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Em terra de santa cruz...

Quero registrar a resposta do Deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) ao programa CQC, na cobertura do fim da bagunça das passagens aéreas. O diálogo foi algo como isto: como sempre, Danilo Gentili fez uma pergunta irônica, do tipo "o Sr. gostou do fim da farra das passagens?", mas não obteve resposta. Depois da terceira tentativa, o monólogo virou diálogo parecido com este: - A imprensa não deveria se meter no que acontece no Congresso. Ligeiro comentário: não que eu considere a imprensa responsável, até porque ela sempre soube dessa bagunça e nunca publicou nada a respeito. Bom, pelo menos alguém de bom senso finalmente resolveu falar, né? Continua o diálogo: - Ah, não?! Por quê? - Porque ela não paga nada aqui dentro. - Ah, eu pago: fui eu que paguei a construção daquela parede ali, ó. E o seu salário eu também pago. Agora, observe a resposta: - O povo também paga e não vem aqui reclamar! Olha... sem comentários!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Parafraseando...

Sabedoria é a consciência de ignorar.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Bate-boca

O episódio no STF é lamentável. Lamentável porque a Constituição exige idade mínima para compor o STF justamente para louvar a maturidade e a sensatez. Anteontem o que houve foi imaturidade e insensatez. Sinceramente, neste estágio pouco me interessa quem tem razão e quem não tem. Não é mais o que está em jogo. Estava, até aquilo acontecer. Mas não mais. Se há exposição na mídia, se não há, se há populismo judicial, se não há... Isso é o que menos importa neste momento. Agora, que intrigas pessoais não virem motivo oculto das próximas decisões.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ah!, esse meu velho pensamento...
ele quer sair de dentro de mim.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Fabricada

Não sou feita de papel. Não me rasgo fácil e não sirvo de chapéu. Não sou feita de pedra. Não me erode a chuva e sou mais dura na queda. Não sou feita de plástico. Não me atrai o lixo e adoro o realístico. Não sou feita de açúcar. Não me dissolve a água e sou amarga na luta. Não sou feita de sal. Não me eletriza o cobre e sei ser doce afinal. Não sou feita de aço. Não me enrijece o coração e derreto no mormaço. Me diga feita de flores, das orquídeas que colorem os jardins, das trepadeiras que se agarram a um fim, dos cactos que se firmam nos confins. Me diga feita de mãos que eu estenda enfim, de pés por que ande assim, de corações que me digam sim. E me diga feita de amor porque é o amor que lhe alimenta... e a mim.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Para tomar fôlego I

Ultimamente parece que estamos sendo engolidos por um mar de injustiças e nele morrendo afogados.
Nessas horas, nada como um bom presságio, desses que mais parecem momentos de calmaria da maré e nos permitem respirar até que venha a próxima onda.
Dois me ocorreram há pouco no trabalho, e reproduzo um deles porque é contagiante. Quem sabe não te anime também?
Mas até a injustiça como também o Antidireito (isto é, a constituição de normas ilegítimas e sua imposição em sociedades mal organizadas) fazem parte do processo, pois nem a sociedade justa, nem a Justiça corretamente vista, nem o Direito mesmo, o legítimo, nascem dum berço metafísico ou são presente generoso dos deuses: eles brotam nas oposições, no conflito, no caminho penoso do progresso, com avanços e recuos, momentos solares e terríveis eclipses.
LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito? 7.ª ed. Brasiliense, 1986, p. 121. O outro fica para o próximo post...

terça-feira, 31 de março de 2009

Século XXI... pós-colonial?

Não é óbvio demais que muro lembra gueto? Apartheid? Palestina? Guerra Fria?
Dirão: é para conter o avanço de construções irregulares!
Para vocês tenho duas observações:
1) para conter o avanço de construções irregulares, construam regularmente em outros locais, onde as pessoas possam viver com dignidade;
2) não utilizem o meio ambiente como pretexto para oprimir quem já vive oprimido o suficiente.
Esta é a minha resposta para quem, na eleição, andou dizendo que o outro candidato era da elite e este era do povo.
O que mais me assusta é que a polêmica está mais tímida do que deveria estar. Assusta, mas não surpreende, a julgar pelos nossos canais de comunicação...

terça-feira, 24 de março de 2009

A história em nossas mãos

Hoje faz cinco anos que o Armênio não governa mais a FND. Hoje faz cinco anos que vivi talvez a maior e melhor experiência da minha vida. Hoje faz cinco anos que aprendi a fazer história. Hoje faz cinco anos que vejo a história acontecer. E, por achar conveniente, cito aqui: Hoje eu sonhei contigo, tanta desdita, amor nem te digo Tanto castigo que eu tava aflita de te contar Foi um sonho medonho desses que às vezes a gente sonha E baba na fronha, e se urina toda e quer sufocar Meu amor vi chegando um trem de candango Formando um bando mas que era um bando de orangotango pra te pegar Vinha nego humilhado, vinha morto-vivo, vinha flagelado De tudo que é lado vinha um bom motivo pra te esfolar Quanto mais tu corria mais tu ficava, mais atolava Mais te sujava, amor, tu fedia, empesteava o ar Tu que foi tão valente chorou pra gente, pediu piedade E, olha que maldade, me deu vontade de gargalhar Ao pé da ribanceira acabou-se a liça e escarrei-te inteira A tua carniça e tinha justiça nesse escarrar Te rasgamo a carcaça, descendo a ripa, viramo as tripas Comendo os ovos, ai, e aquele povo pôs-se a cantar Foi um sonho medonho desses que às vezes a gente sonha E baba na fronha e se urina toda e já não tem paz Pois eu sonhei contigo e caí da cama Ai, amor, não briga, ai, não me castiga Ai, diz que me ama e eu não sonho mais Chico Buarque

sábado, 21 de março de 2009

O leitor

Se você quer catarse assista a "O leitor".
No começo dá pra achar que é mais um clichê. Mas a trama nos surpreende a cada minuto. Vem um misto de sensações múltiplas, desde raiva até piedade.
Mal saí do cinema e já acrescentei à listinha aí ao lado.
Pensei em colocar a sinopse por aqui, mas desisti. Um porque posso me comprometer com direitos autorais. Dois porque a sinopse não encanta muito (e olha que procurei por aí).
Na pesquisa dos textos me surpreendi com a péssima crítica de Chico Fireman. Gostei muito de Billy Elliot, mas acho que o próprio Daldry não gostaria da comparação entre os dois filmes. "O Leitor" vai muito além de uma discussão sobre o holocausto. É preciso ter um pouco mais de sensibilidade para captar as múltiplas mensagens do filme: amor, solidão, frustração, ignorância, injustiça, remorso, superação. Tudo isso - e mais um pouco - se sente na frente da tela. E quem não sente - tenho medo de afirmar, mas... falta feeling.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O patrão devia e não pagava não. O servil cobrou com a macheza de um durão. O patrão falou que não tinha perdão: foi à delegacia e o enquadrou na extorsão.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A droga da política de drogas

Quando escrevi a monografia sobre o assunto, não estava com a falsa expectativa de que as alternativas que propus estivessem sendo cogitadas pelas principais autoridades (sic - refiro-me àuelas que mandam) do assunto. Evidentemente, a coisa é muito mais complexa.
Ontem mesmo saí surpresa de casa quando soube que alguma coisa podia mudar. E feliz também. Mas hoje meu ceticismo voltou à tona porque deu tudo errado.
Não vou me estender no assunto, mas coloco algumas questões que não me deixam em paz, principalmente quando vejo a imprensa fazer estardalhaço em cima do tráfico (a mesma impresna, aliás, que criticou o resultado da reunião das Nações Unidas de ontem):
1. Quando vamos perceber que o combate às drogas é uma guerra com graves consequências, como a morte de jovens e inocentes, em prol de uma política que não tem resultado algum, e isso está a um palmo dos nossos olhos?
2. Quando vamos deixar de criminalizar uma conduta que diz respeito apenas ao indivíduo, jamais à sociedade, e deslocar as verbas gastas com armas e aparato policial para o aparelho de saúde?
3. Quando vamos entender que a prevenção funciona melhor que a repressão?
4. Quando vamos perceber que estamos criminalizando a pobreza, e não a droga propriamente dita?
Tem muito mais. Mas acho que já desabafei.

terça-feira, 3 de março de 2009

Este episódio da morte do Nino e do Chefe de Estado Maior da Guiné-Bissau me fez lembrar alguém muito especial que veio de lá. O menino tinha fugido a pé da guerra civil e, depois que ela acabou, voltou pra casa e veio parar no Brasil pra estudar lá na faculdade. Ele sentia falta da família. Mostrava as fotos e as páginas eletrônicas biassu-guineenses com muito orgulho. E contava a história do país com fevor. Contou várias coisas: que o Nino havia estado no poder por dezoito anos e, depois de deposto, teve que sair do país; depois de algum tempo, fez um acordo com a mesma oposição que o havia deposto, para voltar ao país, e se reelegeu; não sei se é ele o mesmo presidente que embolsou metade de um empréstimo europeu sob o fundamento de que havia perdido muito dinheiro nas suas plantações de arroz durante a guerra civil. E agora esse episódio. A Europa jogou suas colônias à própria sorte. Mas acho que é isso que faz os povos mais fortes, como esse amigo meu, que lutava contra uma saudade monumental da terra e da família dele, mas não desistia das escolhas que fazia. Nunca. É assim que a gente deve encarar as coisas neste tempo de "desordem sangrenta" e "arbitrariedade consciente", para lembrar Brecht. É assim que a gente tem que ser.

domingo, 1 de março de 2009

Rotina boa da saudade

Enquanto ele acariciava seu pescoço com as pontas dos dedos, ela o contorcia para o lado contrário, como um gato mimado. Ele fazia bico, fixando o olhar nos olhos dela, e dizia que estava triste. Ela dizia que também. Depois esperava na sala enquanto ele buscava a mochila no quarto. Eles saíam pela porta coletiva do condomínio e andavam de mãos dadas até a esquina. Ela chamava um táxi. Ele a beijava, depois abraçava. Ela pedia que ele ligasse quando chegasse. Ele dizia tá bom. Ele entrava no carro e pedia a rodoviária. Ela ficava esperando-o virar o rosto para trás enquanto o motorista acelerava. Nas vezes em que ele olhava, eles se despediam num aceno de mãos. Até ele desaparecer na poeira da rua ela ficava ali, parada. Depois virava as costas e voltava para casa. E ficava aguardando ansiosamente até a semana seguinte, quando tudo se repetiria...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

As mulheres sabem...

Aproveitando o ensejo do aniversário...
é impressionante como uma pessoa que nunca se preocupou com nada que dissesse respeito à vaidade, que sempre comeu o que há de menos e evitou o que há de mais saudável, que nunca fez exercícios físicos para manter a forma - no máximo para se divertir - que sempre bebeu muito, que nunca passou hidratante no corpo, nem protetor solar ou coisa que o valha, que nunca usou perfume e sempre andou largada, com saiões ou shorts e chinelo, que poucas vezes se maqueou e nunca se preocupou com celuilites e estrias ,do nada passa a ir ao dermatologista para tratar as manchinhas da pele com ácido e protetor solar, ir à academia para emagrecer, pensar em usar creme hidratante no corpo e comprar uns outros para evitar rugas - afinal, em pouco tempo você vai chegar nos trinta - e etc...
Você pode até me dizer que com 24 anos a pessoa é nova demais pra ter esse tipo de neura.
Mas, considerando que a vida não é muito simples e que, quando mal fecha uma etapa já tem que emendar na outra igual uma doida e daí as rugas podem mesmo começar a aparecer; considerando que os anos de banho de sol irresponsável causam mesmo as manchinhas na pele e considerando que, quando a gente é mais nova, vê a nossa mãe também com 24, 25 anos fazendo a mesma coisa...
olha, sei não, hein?! Acho que é melhor eu me cuidar!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Tenho tido dificuldades pra escrever aqui. Não que não haja assuntos ou que minha vida seja um marasmo. Na verdade, acho mesmo que é a felicidade - de ter o Zé e o meu trabalho, de ter os amigos, apesar da minha falta de tempo... Acho que é ela que tem me subtraído a inspiração. Não que me julgue alguém digno de dizer que se inspira em algo e se torna o que alguns se tornaram - Machados, Vinícius, Mários, Clarices... O que quero dizer é que nada mais me causa perplexidade, nem tristeza, nem angústia, nada. Só felicidade. E é nessas horas que eu descarto o romantismo e vou direto ao desejo de dizer alguma coisa, mesmo sem doença, mesmo sem amor proibido ou não correspondido, mesmo com o verão, a primavera e tudo o mais... Podia escrever sobre todos os absurdos que estão acontecendo no Oriente Médio e sobre tudo de errado que tenho visto enquanto trabalho. E como o trabalho me proporciona enxergar tantas injustiças e deslealdades! Mas, não sei se por egoísmo ou até medo de ser antiética, nada disso tem me inspirado não. E por isso mesmo fiquei surpresa outro dia, lendo uma matéria no jornal. Por coincidência - e logo percebi porque tem gente que faz da escrita o logotipo -, era de um ex-colega de trabalho. Essa coisa de você nostalgiar não necessariamente o que viveu com as pessoas no passado, mas pelo menos o que conviveu... Isso me fez querer saber por onde andava esse colega. - Ando onde há espaço, ele me respondeu. Não sou boba. Não me arrisquei em retrucar. Mas era essa a inspiração - e talvez o conhecimento - que me faltava agora.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O castelo do Edmar

Vou dizer uma coisa. Quando bati o olho na capa do jornal e vi a notícia do castelo do Edmar eu nem fiquei chocada, que é isso que a gente espera mesmo de 90% - para não generalizar - dos congressistas. Mas até ali eu só tinha batido o olho. Lendo mesmo, fui saber que o Ministério Público estava movendo uma ação coletiva e pedindo pra bloquear o castelo, porque o Edmar tinha umas dívidas trabalhistas naS empresaS (isso mesmo, no plural) dele. Então: 1) o cara tem um castelo; 2) o cara tem algumas empresas e 3) pra completar a caradura, o cara tá devendo verba trabalhista! Na boa, se é pra fazer isso, pelo menos escolhe um castelinho menos brega, né?!