O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Pensamentos em um casulo


Primeiro eu pensava que mergulhar fazia a água entrar pelo nariz e que eu ia cair quando meu pai me jogasse pro alto. Ele não conseguiria me pegar e meu destino era o chão, certamente. E certamente a água entraria pelo nariz. Por isso nunca experimentei nada disso.

Depois, eu pensava que a dança era a coisa mais prazerosa da vida e que, no palco da vida, os palcos com holofotes, quando cheios de gente - eu em cima deles - e com uma platéia na sua frente, ficavam lindos!

Era aí que eu também pensava que o mundo era um teto azul com estrelinhas e luas e penduricalhas, junto com uma TV e algumas paredes amarelas; pensava que o mundo era meu e que, por isso, ele girava ao meu entorno, como se estivesse numa órbita. E, tal qual uma órbita, eu estava redondamente enganada. Foram muitos “nãos” e muitas pirraças em razão dos nãos.

Então eu pensava que o mundo não era mais meu, mas que ele estava contra mim. Pensava tanto isso... tanto quanto eu chorei por causa desse meu pensamento. Até cansar de chorar e achar um motivo para parar de pensar assim.

Aí eu pensava que existia príncipe encantado. E com todos os príncipes que apareceram no meu conto de fadas eu me desencantei. Sim, porque os contos eram só da minha fada.

Mais adiante eu pensava que o mundo era injusto e também que a justiça aguardava seu lugar e seu momento. Pensava até que poderia conquistá-la, mesmo praticamente sozinha, porque eu e mais uns poucos tínhamos nascido para isso.

Hoje, ainda penso que a água vai entrar pelo nariz e continuo sem mergulhar e penso que meu destino será o chão, se meu pai me jogar pro alto. Mas penso que, além da dança, a cultura é um novo prazer e é um mundo além do meu e também que o mundo não é meu, mas não está contra mim. Penso que ele é injusto e está contra quem já não lhe tem o afago, mas não penso mais que posso mudá-lo, nem conquistar a justiça, porque aqueles poucos em quem acreditava para me ajudar a conquistá-la não se dispuseram a ir adiante. Penso que sou impotente sozinha, mas que posso fazer um singelo que signifique algo relevante. Ainda penso que existe príncipe encantado, mas ele não desce de um cavalo branco, nem veste uma capa vermelha, nem usa uma espada. Penso que ele existe, mas vem numa mulinha velhinha, bem lentinha, vestindo bermuda e camiseta, com alguns documentos no bolso.

Amanhã não sei o que pensar, mas meu pensamento será diferente de tudo o que penso agora. Agora penso que mudar meu pensamento fez bem para o meu mundo e que, se eu pensar igual amanhã, não serei a mesma pessoa...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Haiti é logo aí...

Estes últimos dias têm sido complicados. Passamos um reveillon trágico, com muitas mortes e, em alguns pontos turísticos, perspectiva de recessão econômica. Por causa das mortes.


Ainda estávamos bem. Temos defesa civil, bombeiros, exército, polícia civil, militar... O terremoto no Haiti nos fez perceber isso. Ainda que devamos admitir que ainda estamos longe do ideal.


Tudo isso me confundiu muito quando, depois de quase um mês de férias, bateu a saudade do trabalho.


E o refrão do Caetano Veloso misturou mesmo as duas coisas aqui dentro desta cabeça oca.



E vejam como são tratados os pretos, ou brancos quase pretos de tão pobres:





Fernando Meirelles teria tido um bom set para Ensaio Sobre a Cegueira...


domingo, 10 de janeiro de 2010

Avatar

Vimos Avatar. Hesitei muito, desde que o filme entrou em cartaz, porque o próprio trailler denunciava ser o tipo de cinema que não me atrai. Mas me atraía. 

Hoje já hesitamos por outro motivo: sessão 3D esgotada. Deixamos para ver outro dia com os oculinhos ou vemos hoje mesmo? Acabamos entrando.

O roteiro em si não é muito surpreendente. Mas surpreende com o resto: a mensagem, a fotografia, os efeitos, a direção, nos atores. Tudo converge para uma sensação muito boa que se sente do início ao fim - é claro que mitigada por situações de tensão, mas nada que nos tire daquele sonho de viver em harmonia.

Sabe, acho que a nossa cultura ainda não está perdida. Podemos fazer coisas boas, mesmo usando aquilo que nos parece mero modismo, tipo computação gráfica e efeitos especiais. É só querer tocar o coração das pessoas.

Por isso recomendo que conheçam a história do Avatar. Nos faz refletir sobre nossas ações e, sobretudo, sobre nossas crenças. Nos faz crer... em algo útil e saudável.

A próxima sessão é 3D.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

About thoughts

Pensar, pensar, pensar...
Esta é a virtude de viajar.