O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Quem me acode à cabeça e ao coração neste fim de ano, entre alegria e dor? Que sonho, que mistério, que oração? Amor. Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

BALANÇO GERAL

2008 foi um ano: primeiro, de formatura; depois de efetivação; depois de estresse; depois de um convite; depois de uma aceitação; depois de aprendizado; depois de calmaria; depois de crise; depois de planos; depois de briga; depois de reconciliação; e agora de viagens. No fim, tudo volta ao começo... ... e 2009 não me deixa mentir!

sábado, 29 de novembro de 2008

Resumo do mês

Santa Catarina: desastre pluviário. Índia: terrorismo. Petrobrás: empréstimo bilionário da Caixa (sic). Bem... Tenha um feliz natal!

sábado, 8 de novembro de 2008

A constante

Depois de um namorado e uma terapeuta insistentes, eu fui! Finalmente eu! Vale dizer, finalmente decidida! Mais feliz, sem dúvida, mas não menos insegura. É que quando se lida com gente mais experiente e, ao mesmo tempo, muito competente, o peso da responsabilidade é maior. Daí o medo de acabar decepcionando essas pessoinhas que me creditaram uma oportunidade única! Mas eu não sou eu se eu não fizer o meu melhor. Prometi isso pra mim. Pra quem não entendeu nada, explico daqui a alguns posts. Por enquanto só preciso que me desejem sorte.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Insandices

Praticidade nunca foi a minha praia.
Na verdade, já foi... mas deixou de ser.
Não foi à toa que me surpreendi quando escolhi a Rosane. Na época procurei duas profissionais: uma, do TCC, e a outra da psicanálise. A Rosane me disse que o TCC era mais rápido, e que a psicanálise nos torna "dependentes da terapia".
A dúvida era inevitável: rápido demais, capitalista demais. Conspiração de recém-egressa - traumatizada - do mundo político-estudantil, em que pensamentos do tipo "tudo é culpa do capitalismo" são inevitáveis.
Daí a primeira cura: ultrapassar tabus criados pela minha própria imaginação.
Escolhido o caminho, tudo correu bem. Recebi alta, depois voltei a ir toda semana, depois recebi alta de novo.
Mas antes da regressão ao tratamento semanal tive um incidente: marquei sessão para a quarta-feira imediatamente anterior aos eventos de formatura. Mais precisamente, a missa era no dia seguinte.
Não preciso dizer que esqueci com-ple-ta-men-te a Rosane. Quando lembrei, já era a hora de terminar a sessão. Não por isso deixei de ligar para perguntar se eu podia passar lá e pagar pela hora de trabalho perdida. E, como ela tinha um horário livre, me convidou a fazer a sessão mesmo assim. E fiz.
Nada demais. Momento de esquecimento isolado. Desses que decorrem do desespero de não ter comprado as bijuterias nem a calcinha e o sutiã que não marcassem o vestido da festa.
Na época da segunda alta, mudei de rotina. Horário maluco, um monte de burocracia pra resolver, curso...
Esqueci uma vez. Ela me ligou logo depois do horário da sessão. Marcamos pra outro dia, eu fui, pedi mil desculpas e paguei.
Duas semanas depois, eis que um dia, às onze da noite, me lembro de que deveria ter ido à terapia às nove da manhã.
A vergonha era tanta que cheguei a ficar ansiosa pra me desculpar! Mas está tarde! Já sei, torpedo! Ih! O celular tá sem crédito! Guilherme, posso mandar um torpedo do seu telefone?! Ufa!
No dia seguinte, na ligação que não podia faltar marcamos pra semana seguinte, quinta que vem.
Moral da história: a distração é porque não preciso mais da terapia ou preciso ainda mais da terapia por causa da distração?
O TCC resolve.

Se eu fosse um padre

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado - muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ... e um belo poema - ainda que de Deus se aparte - um belo poema sempre leva a Deus! Mário Quintana

domingo, 5 de outubro de 2008

To the feet of the letter!

Lembrei do último dia de estada da duas gringas aqui em casa. Fomos ao Bracarense, como não poderíamos deixar de fazer, onde elas pretendiam degustar algo bem carioquês. Mas não sem saber do que se tratava, obviamente. Não preciso dizer que surgiu um impasse, porque, se elas queriam saber o que iam comer, então alguém tinha que explicar o que elas iam comer. Decidimos então adotar o método de tradução do Little Yellow (vulgo Amarelinho) da Cinelândia. Lá, é tudo assim: meat to Osvaldo Aranha, rice do the greek, etc. The dry meat não fez muito sucesso. Elas acabaram comendo um frango aparentemente feito para o passarinho - chicken to the little bird. Apesar do artigo definido, até agora não se sabe de qual passarinho estávamos falando. Nessa brincadeira também o bolinho de camarão ficou um pouco distorcido, mas até que foi bem traduzido: shrimp ball. Elas comeram two shrimp balls. Foi bem estranho quando o meu irmão mostrou a conta, querendo identificar o que eles tinham consumido: "You see? These are our two balls". As risadas, obviamente, foram constantes. Mas pra diversão ser ainda maior a gente devia mesmo ter ido ao Little Yellow só pra ler o menu: é tudo ao pé da letra. E no fim, os que menos entendem aquela bagunça toda são os gringos. Go understand!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Estranha Palavra...

Saudade...
Coisa estranha assim só pode mesmo existir num único lugar do mundo. Nos outros, i miss you, te extraño, je sens son manque; nunca sinto saudade.
Porque ela é assim mesmo, de fazer o homem ignorar a etimologia certa, aquela que se encaixa assim, como luva para as mãos do que ele sente. E seria mesmo a saudade essa palavra? Seria mesmo a saudade o que se sente?
Saudade, coisa estranha... Daquelas que te pegam num fim de tarde chuvosa e você não sabe por quê; que te tomam numa véspera de reveillon e você não sabe o que fazer...
Amor, ódio, compaixão, pesar, tristeza não são assim. São matemáticos, taxativos: você sente por quem, quando, quanto e onde, tudo certo! Saudade, não. Você só sente e, de repente, muda o quanto; de repente, muda o onde, tanto foi o quanto que você a sentiu... E só aí descobre de quem sente saudade, e o quando nunca!
Saudade, coisa estranha... Não existe mesmo em lugar algum do mundo. Mas no mundo todo i miss you, te extraño, je sens son manque. No mundo todo, a saudade.

terça-feira, 22 de julho de 2008

O FIM DO MEU COMEÇO

A conclusão óbvia, a que minha nova classe chegou faz tempo, foi confirmada outro dia no horário nobre da TV Globo. Eu quero frisar: a rede Globo andou contando mentirinhas sobre minha profissão em pleno horário nobre - leia-se, novela das oito, assistida pela grande massa do senso comum brasileiro.
Não bastassem os constantes questionamentos cotidianos dos amigos dos amigos e dos amigos do namorado e dos parentes dos amigos e do namorado sobre POR QUÊ?! e COMO ASSIM?! eu defendo um "criminoso" (e abram muitas aspas para esta palavrinha em relação à qual eu - assim como toda a minha classe profissional e uma parcela considerável da comunidade científica - possuo muitas ressalvas) mesmo sabendo que ele praticou o crime;
Não bastasse esses questionamentos continuarem insistentemente mesmo depois de explicado que a ética profissional do advogado é justamente oposta à ética do senso comum, pois por imposição constitucional e estatutária - e, pois, legal - ele tem a obrigação de fiel e eficazmente defender o seu cliente a qualquer custo e que, sem saber a verdade dos fatos (ainda que ela seja a pior), ele não tem a menor condição da fazê-lo assim tão bem;
Não bastasse ouvir de um taxista que "advogado de bandido bandido é", mesmo exercendo a minha profissão dentro dos limites da legalidade;
Não bastasse ter todas as minhas conversas telefônicas, nas quais é muitas vezes inevitável abordar assuntos de intimidade minha ou alheia, ouvidas por terceiros desconhecidos, sem que haja decisão judicial permitindo essa espécie de invasão;
Não bastasse ouvir de Promotores e Procuradores de Justiça e da República que todos nós, advogados, estamos a serviço do crime, a despeito da minha já dita fidelidade aos limites da lei;
Não bastasse ser tratada como inimiga das instituições democráticas, como bem dito por um grandioso colega de profissão, mesmo lutando em seu favor e contra as arbitrariedades ultimamente praticadas pelo Judiciário, com honrosas exceções que constituem exemplo de luta pela democracia;
Não bastasse os telejornais corroborarem leviano discurso;
Bem, não bastasse tudo isso, ligo a televisão no horário nobre e vejo a seguinte história se desenrolar:
O advogado de uma mulher presa (sem decreto cautelar nem tão pouco circunstância flagrancial) entra na casa da suposta vítima - um homem que teria sido pago para causar lesões em si próprio e atribuí-las à tal mulher presa -, sem que ele esteja presente (sic). Quando ele chega, o advogado o chantageia, dizendo que sabe dos seus atos de pirataria de CDs e que, se não esclarecer à Polícia que aquela mulher jamais lhe feriu, o "causídico" invasor de domicílios o "denunciará" pela pirataria.
Agora veja: advogado criminalista virou sinônimo de chantagista para a massa da população brasileira, que assiste a esse tipo de absurdo e, em geral, o assume como verdade.
Aí, eu fico me perguntando por que me perguntam POR QUÊ?! e COMO ASIM?! eu defendo um "criminoso" (mais uma vez, com muitas aspas) mesmo sabendo que ele é culpado e por que o taxista, coitado, me diz que "advogado de bandido bandido é".
Tá aí a explicação. E a classe é política e publicamente linchada. Todo dia.

domingo, 13 de julho de 2008

That´s me in my own pocket...

Imagem: M. C. EScher

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O avião do anjo Gabriel

Numa das cem ou cento e cinqüenta viagens que fiz a São Paulo no último ano e meio e dezoito dias, passei no Laselva e comprei um Gabriel. E me senti renovada! Memória de minhas putas tristes foi engolido, devorado, devassado (sem trocadilhos) em menos de duas horas - o tempo do vôo atrasado até o momento em que as luzes do avião acendem, os avisos de atar cintos apagam e a aeromoça diz: "O uso de aparelho celular somente será permitido a partir de sua chegada ao saguão do aeroporto", sabe? Falando em avião, a bela adormecida do amigo de Rosa Cabarcas me lembrou muito O avião da bela adormecida, do mesmo anjo Gabriel que me entreteve durante os curtos minutos que passei entre a sala de embarque do Santos Dumont e a pista de Congonhas antes do procedimento de portas. Mas me lembrou mais mesmo eu mesma com minha própria leitura. O velho tinha feito noventa anos. Se eu tenho vinte e três, por que também não posso me apaixonar assim por um livro, mesmo depois de me prostituir às novelas e às peças teatrais globais mais insólitas que já se viram? E me apaixonei assim, pela memória das putas tristes dele... o que não me impede de me apaixonar de novo, certo?!

terça-feira, 8 de julho de 2008

Quando em quando me pego em dúvida sobre o sentido do que tenho feito. Pergunto por que Sempre acordo tomo banho escovo os dentes visto um terno e um salto muito alto mesmo querendo vestir uma roupa hippie e pego o ônibus e subo de elevador e digo bom dia e vejo os processos e ligo pro cliente e levo bronca e dou bronca e volto pra casa. Quando em quando me pego em dúvida sobre o valor do que tenho feito. Pergunto por que Nunca vejo resultado, Quanta mais-valia produzo e Quanta não reduzo. Quando em quando me pego pensando... um pouco. Depois, acordo tomo banho escovo os dentes visto um terno e um salto muito alto...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O meu materialismo é histórico

Hoje, li num lugar: "Tudo o que somos é resultado do que pensamos." Para mim, tudo o que pensamos é resultado do que somos.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O medo

Quero o prazer da certeza que um dia hão de me trazer as teorias que relacionam espaço e tempo. Dê aos olhos humanos a ciência o dom de enxergar além do espaço e participar à consciência o futuro que os espera após a escolha! Aflição temerosa: os olhos do homem não enxergam as placas que estão no caminho da mudança. E fica a eterna pergunta... “E se...?”

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Eu, numeral

Um RG, um CPF. Um código de barras na conta da luz, do telefone. Um telefone, um endereço de IP. Um boleto bancário, um cartão de crédito. Um protocolo. Enfim, despersonalizei. Numeralizei. Meu nome? Umdoisoitosetemeiaquatronove. E o prazer é todo nosso.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A alma e o negócio

Propaganda é a alma do negócio. E embora não tenha lá conhecimentos técnicos sobre mensagens subliminares, estruturação de slogan, pesquisa de mercado, etc, de marketing pessoal eu entendo. O Romildo, com todo respeito (à Lisa e ao Zé), é o único homem capaz de me fazer sentir mulher. Chego no salão, com aquele cabelo lambido, quebradiço, seco e duplo. Vem a pergunta: "E aí, o que vai fazer?" "O que você quiser!" - decidida! "Posso usar a navalha?" "Até um isqueiro." Polêmica, apareço de cabelo doido e provoco as mais diversas reações. No trabalho, "radical chique". Entre as amigas, "executiva bem-sucedida". Com o namorado, o previsível: "você fica linda de qualquer jeito". Na dança, "é a sua cara!". Mas uma coisa é unânime: "você tá mais alegre assim; aquele outro te deixava triste". Moral da história: tenha um bom cabeleireiro. Porque o seu cabelo, sem dúvida, é a sua alma e o seu negócio.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Colonial

Lula hoje disse que ligou para o Bush - não deve ter mais o que fazer. Pois bem, ligou e disse: -- Ô Buchi! Vê se toma conta do negócio aí, pô. Demoramo (sic) tanto tempo pra crescer, agora que a gente tava crescendo tu me arruma (sic de novo) um problema desse? Café com leite (sem república).

sexta-feira, 14 de março de 2008

Um pouco mais adulta...

Hoje foi o lançamento do tão esperado Livro Histórico do CACO - Centro Acadêmico Cândido de Oliveira.

O livro foi idealizado há alguns anos na tentativa resgatar a história de uma das mais importantes entidades estudantis do Brasil - talvez a mais importante - a partir de entrevistas de ex-diretores, ex-presidentes, ex-secretários e ex-militantes do CACO.

Tive receio em comparecer. Tenho lá minhas restrições quanto à atual gestão do Centro Acadêmico. Mas pensei: não pode a recente e triste história do CACO me desestimular a conhecer a antiga e gloriosa história do CACO!

Pois bem, lá estive, apesar do pouco tempo que eu tinha para aproveitar o evento.

Um misto de sensação nostálgica e frustrante tomou conta de mim. Quando fui Diretora de Imprensa do CACO, não consegui tocar uma vírgula daquele livro. Daí o sentimento de frustração. Mas, quando vi o livro, veio a sensação nostálgica.

Apesar de o lançamento soar, para mim, uma medida claramente eleitoreira, já que ocorreu um mês antes da eleição; apesar de não concordar com muitíssimas posturas desta gestão; apesar de considerá-la apática diversas vezes; apesar de muitas coisas não pude deixar de cumprimentar ao menos um dos atuais diretores pelo feito, que já se estendia por quase 8 anos, e ninguém conseguia finalizar. Eu fui uma das pessoas que não conseguiu.

Hoje, aprendi que, mesmo não concordando com algumas pessoas, devemos respeitar suas conquistas. Aprendi que não vale a pena insistir politicamente em algo para o qual não se tem perfil. Se tivesse sido outra pessoa o Diretor de Imprensa da minha época, talvez esse livro tivesse saído um pouco antes.

O fato é que a história do CACO mexe comigo. Mesmo quando eu já não faço mais parte dela. O livro está na minha frente. E nós estamos nos namorando agora (mesmo sabendo que, em relação à história recente, não concordamos em muita coisa)...

terça-feira, 4 de março de 2008

A mensagem

Um amigo nosso, comandante da VASP, conta-me a estranha mensagem recebida por um piloto americano durante uma aterrissagem. O avião da companhia norte-americana sobrevoava a Bahia, a caminho do Rio, quando um defeito no motor obrigou o piloto a providenciar uma aterrissagem no aeroporto mais próximo possível. Na Bahia, justamente na pequena cidade de Barreiras, existe uma pista de emergência (se é que se pode chamar aquilo de pista) para os aviões das linhas internacionais. Raramente é usada, mas era a mais próxima da rota do avião. Assim, o piloto não teve dúvidas. A situação dele estava muito mais pra urubu do que pra colibri. 0 negócio era mesmo se mandar para Barreiras. Pediu pouso durante certo tempo, dirigindo-se à Rádio local em inglês. A resposta demorou um pouco, mas acabou vindo. Alguém, com forte sotaque nordestino, falando um inglês arrevesado e misturado com palavras em português, respondia que estava ouvindo e aconselhava o comandante a procurar outro local para aterrissagem. Há dias estava chovendo em Barreiras e a pista se achava em péssimo estado. O piloto, sem outra alternativa, insistiu em pousar assim mesmo, e tornou a pedir instruções, ouvindo-se lá a voz a dizer que estava bem, mas que não se responsabilizava pelo que desse e viesse. Acontece porém que isso foi dito com outras palavras, ainda num misto de português e inglês. Assim: — Ok. You land. But se der bode, I'il take my body out. Stanislaw Ponte Preta

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Giuseppe


Nasceu pros idos de 1920/1930. Filho de italianos imigrantes, teve uma infância feliz, embora pouco farta. “Muito dessa felicidade, Giuseppe diz, era porque eu já sabia do meu talento deeeeeeesde cedo!”

Boleiro nato. Melhor: goleiro nato. Branco (houve época em que isso era requisito), alto – muito alto para os padrões esportivos da época: uns 2m. Ombros e costas bem largos. Braços na mesma proporção. Físico perfeito para a posição.

Começou cedo e logo estava nas categorias profissionais. Hoje ele se orgulha do feito: “Não fui um Pelé, mas fui um bom goleiro. Bom o suficiente para contar histórias por aí”.

Bom mesmo. Lembra-se do Poy? O Rogério Ceni da década de 50, ele mesmo. Pois é, Giuseppe era reserva do Poy. Não tem mesmo motivos para não se orgulhar.

Ainda adolescente, conheceu uma moça (hoje, diríamos, menina). Casou logo, devia ter seus 22 anos.

Tereza era linda! “Ah!, essa mulher... Sem ela não teria sorrido metade das vezes em que sorri na minha vida!” Tereza foi, e é, sua grande paixão. Deu a ele três filhos: dois homens e uma mulher. Com idas e vindas, todos deram orgulho ao casal: profissão, casamento, netos...

A mais velha, Maria, sempre foi a mais centrada. Tal pai tal filha, encontrou cedo o grande amor de sua vida: Marcos Pedro. Com ele deu o primeiro neto a Giuseppe. Com ele construiu um lar. Não um lar só para cinco, mas para muitos. Sim, porque nele também cabia toda a família de Marcos Pedro, que tinha seis irmãos, quatro com filhos.

Ah!, o natal naquela casa... Lá se entendia o mais puro significado do natal! Os filhos e sobrinhos tinham, ali, pelo menos duas mães: a verdadeira e a Maria. E também ganhavam de quebra o pai ranzinza e carinhoso que era Marcos Pedro.

Em torno deles, reuniam-se todos. Todos em torno da mesa deles, na casa deles, que afinal era de todos. Mesmo quem não acreditasse em Deus ali acreditava: esqueciam-se as brigas, renovavam-se as preces, celebrava-se o bem e divertia-se muito. Entregeva-se à música e à dança... no videoquê preferencialmente. E, se práticávamos a gula, também repartíamos o pão.

Passados os anos, aposentado Giuseppe, ele já não era tão alto. A idade já o fazia curvar-se diante das pessoas. Mas continuava com saúde de atleta e, mesmo com o “encurtamento de altura”, era preciso dobrar para trás o pescoço se alguém quisesse travar com ele um diálogo de olhares sinceros.

A esposa, também contando seus setenta e poucos anos, desenvolveu habilidades e descobriu alguns hobbies. Crochê era o principal. As famílias todas não cansavam de encomendar colchas, blusas, casacos, calças... E ela não cansava de presentear os netos, e agora bisnetos, com seus badulaques manufaturados.

Certo dia, Giuseppe nos assustou.

“No hospital?!”

“Sim, operando o coração.”

Mas tudo ficou bem. Pena que naquele natal ele não pôde estar no nosso querido lar. Acabou ficando em casa. Não pela cirurgia, que havia sido "um sucesso", disse o médico, e não exigiu pouco mais que alguns meses  de recuperação. O fato é que, por dado motivo, ele não estava conosco naquela ceia.

Não por isso ele deixou de ligar. Maria atendeu:

-- Oi, pai! Tudo bem?

-- Tudo bem, minha filha, feliz natal!

-- Pra vocês também, pai!

-- Filha, este é o natal mais feliz da minha vida.

-- Rogo, papai, mas por quê?

-- Deus achou que marcaria um gol em mim, mas Ele se esqueceu...

-- Esqueceu-se de quê?

-- Que eu jogo na lateral esquerda, minha filha...

Os olhos de Maria desaguaram.

Marcos Pedro partiu alguns anos depois, antes de Giuseppe, e deixou saudades...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Se minha vida fosse uma gramática...

Quando nasci eu era um ponto de gente. Mas não era um ponto final: era um ponto e ponto. Ponto começa com P, como pessoa. Era um ponto, com P de "pessoa no início da vida". Não me custou virar uma interrogação. Mas veja bem, se no caderno, pra transformar um ponto numa interrogação é necessário acrescentar apenas uma curvinha esquisita logo acima dele, na vida é bem mais complicado: são necessários muitos por quês, comos, quandos, ondes e quems. Os pontos finais das respostas só vieram depois de alguns anos, quando me tornei uma interjeição: ai! nossa! oba! ih! caramba! puxa! epa!... Ai!, que tempo bom, nossa! Tive muitas alegrias dignas de oba!, mas também várias trapalhadas típicas de ih!, sustos de caramba!, lamentos de puxa! e limites: epa! De repente tudo virou reticências. Não reticências quaisquer, mas dessas que os Machados de Assis usam pra deixar a gente na dúvida (Capitu traiu Bentinho, afinal, seu moço?!)... É que reticências aqui também podem se confundir com interrogação. Mas a pergunta dessa vez é outra: tô mais pra "e agora, josé?". Alguém me responde?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Se...

Se ligo no meio da tarde pedindo seu colo, é porque é confortável como pelúcia; se ofereço um abraço tão longo quando chega, é porque sua ausência deixa saudade; se o beijo é quente, é porque mais quente ainda é minha paixão; se não apago as luzes, é porque nunca tive alguém como você antes na vida; se tenho ciúme, é porque também - e antes - tenho amor; se peço uma opinião, é porque você é importante; se discordo da opinião, é porque sou teimosa; se planejo uma viagem, é porque quero fazê-la com você; se empresto um livro, é porque quero que leia (ok?!); se alugo um filme, é porque quero deitar no seu ombro; se digo que amo você, é porque é a mais pura - talvez a única - verdade na minha vida; se rio das suas piadas, é porque são engraçadas; se fico triste, é porque estamos longe; e se sou feliz, é porque tenho você ao meu lado.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Anedota

Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o garçon do restaurante. Era apenas mais um par de fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se sentaram. O garçon andou de lá prá cá e de cá prá lá, como fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses mas, afinal, atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçon, acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou pois o garçon e perguntou ao ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor - "Primeiro você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta filet roti à la broche pommes dauphine. Em seguida Medaillon Lagartiche Foie Gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de biscuit Estraguèe avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934. — Muito bem - disse o garçon. E, dirigindo-se ao tigre — E o senhor, que vai querer? — Ele não quer nada — disse o ratinho. — Nada? — tornou o garçon — Não tem apetite? — Apetite? Que apetite? — rosnou o ratinho enraivecido — Deixa de ser idiota, seu idiota! Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele? Millôr Fernandes

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Não é que ele estava certo?

"Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba, não" Se ele não tivesse razão o cavaco não chorava.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Carnaval

Vai passar nesta avenida o samba popular?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Mercado Negro

No escritório, umas dezessete horas, talvez dezoito. Toca o telefone:
- Boa tarde, Dra. Fernanda?
- Boa tarde.
- Meu nome é Fulana e sou da Fundação Getúlio Vargas, que está abrindo novas turmas de MBA em Direito este ano, inclusive com facilitação de pagamento, parcelando o investimento em trinta vezes. A Sra. estaria interessada em receber as opções de curso por e-mail?
Fiquei pasma: imaginem que a FGV, a despeito de eu nunca ter passado nem pela sua porta nem ter tido contato com qualquer pessoa que trabalhasse ou estudasse naquele lugar, sabe que eu acabei de me formar! E, pior, eles têm o meu número de celular!
Tá, tudo bem que a informação chegou incompleta. Se soubessem que enveredo mais para o crime, não me ofereceriam MBA em business law. Também se soubessem que não tenho o menor interesse em programas de curso de cunho exclusivamente mercadológico e que, pelo contrário, tenho horror a esse tipo de abordagem, não se arriscariam a perder tempo me ligando.
Ainda assim, fica a dúvida: QUEM VENDEU MEUS DADOS?!
Vejam o menu de opções:
1 - Banco Real - quando preenche o contrato de abertura de conta corrente universitária, você informa ao banco a sua previsão de formatura.
2 - Mercure Eventos - empresa de relações públicas que organiza simpósios, palestras e seminários, inclusive na área jurídica, cujos formulários de inscrição pedem a sua formação e, se você ainda estiver na universidade, perguntam em que período da faculdade você está.
3 - Curso Glioche - o curso preparatório para concursos mais barato que existe no Rio de Janeiro. Também pergunta a sua formação e o período da faculdade.
4 - Sueth - empresa organizadora da festa de formatura (seria o cúmulo!).
5 - Um funcionário da UFRJ?
6 - ... Não faltam opções ...
A idiota aqui ainda forneceu o e-mail para receber as informações sobre os cursos. Nem pensou que podia ser vendido também.
Que fazer nesse mundo, viu?!

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

PESQUISA CIENTÍFICA COMPROVA: CORPOS, QUANDO SE SEPARAM, PERDEM A ESSÊNCIA

Dois cientistas da In Love University, no coração do mundo, utilizando-se do método empírico, concluíram que determinados corpos, quando se separam, deixam de ser eles mesmos, perdendo suas principais propriedades.
A pesquisa foi realizada por meio da cisão abrupta de duas substâncias por duas semanas, durante as quais ambas permaneceram praticamente imóveis e apáticas diante dos fenômenos naturais.
A hipótese foi confirmada com a diluição de uma em outra, tal qual inicialmente encontradas, o que possibilitou o retorno das reações químicas decorrentes do contato com a natureza.
- Pode-se dizer que uma, sem a outra, não é uma, nem outra, mas algo sui generis, que não possui função alguma no meio em que se situa, por não reagir a absolutamente nada. - revelou um dos cientistas.
Com a descoberta, muitos acidentes geográfico-físico-climáticos podem ser evitados: se seguirmos a recomendação científica que determina a manutenção dos corpos em fusão, fazendo-os ocupar o mesmo lugar no espaço, as oscilações de temperatura reduzirão drasticamente, devido à constante e intensa troca de calor.
- É nesse viés que estamos trabalhando nossos estudos nessa segunda fase de pesquisa - disseram os pesquisadores.
Fonte: revista L&L cientific love

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Minha epígrafe acadêmica

"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural; nada deve parecer impossível de mudar." Haja Brecht para alimentar minhas esperanças...