O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Quem disse que mineiro come quieto?

Quinta-feira, Mari ia contando sobre como andava sua vida quando chegamos ao sinal aberto, aquele que se atravessa do fórum até a Av. Erasmo Braga.


- Onde fica o metrô mais próximo daqui?, perguntou uma moça.


Solícita, Mari respondeu que estávamos indo para lá, e a mulher resolveu nos seguir.


Fechado o sinal, começamos a andar, e a moça resmungou:

- Gente, nunca vi trânsito igual!, tudo isso é "só" por causa daquela confusão na Central? – como se a confusão na Central fosse pouca coisa.

- Olha, a Central até ajuda, mas esta cidade é assim mesmo: choveu, para tudo... – respondi.

- Ah, então eu não sei como vocês conseguem morar nesta cidade porque eu não aguentaria porque eu nasci aqui mas fui pra Minas bem nova nunca mais voltei e agora tive que vir pra cá por causa de um evento e eu estou sofrendo aqui porque em Minas não tem esse trânsito agora você vê pra ir pra Jacarepaguá eu tenho que pegar metrô um ônibus em Copacabana e depois outro ônibus na Barra e eu sofro com isso porque em Minas não é assim porque em Minas eu chego em qualquer lugar de ônibus sem perigo nenhum porque essa violência do Rio de Janeiro...


Nisso, interrompi a moça porque Mari  tinha me abandonado pra eu ouvir sozinha aquele monte de ladainha e já estávamos atravessando para o Buraco do Lume quando a moça virou pro lado contrário:


- O metrô é pra cá, senhora.


- Não, vou pegar o ônibus aqui mesmo porque não dá pra pegar metrô ônibus depois outro ônibus porque é muito cansativo pra mim que estou acostumada com Min...


E, conforme íamos nos afastando, não ouvíamos mais aquela voz ao longe. Mas ríamos de longe, porque no Rio, minha senhora... no Rio se ri de tudo. Até do trânsito... e de longe.

Um comentário:

bernardo disse...

a cachorrinha melhorou?
Beijo!