O outro
Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.
terça-feira, 3 de março de 2009
Este episódio da morte do Nino e do Chefe de Estado Maior da Guiné-Bissau me fez lembrar alguém muito especial que veio de lá. O menino tinha fugido a pé da guerra civil e, depois que ela acabou, voltou pra casa e veio parar no Brasil pra estudar lá na faculdade.
Ele sentia falta da família. Mostrava as fotos e as páginas eletrônicas biassu-guineenses com muito orgulho. E contava a história do país com fevor.
Contou várias coisas: que o Nino havia estado no poder por dezoito anos e, depois de deposto, teve que sair do país; depois de algum tempo, fez um acordo com a mesma oposição que o havia deposto, para voltar ao país, e se reelegeu; não sei se é ele o mesmo presidente que embolsou metade de um empréstimo europeu sob o fundamento de que havia perdido muito dinheiro nas suas plantações de arroz durante a guerra civil.
E agora esse episódio. A Europa jogou suas colônias à própria sorte. Mas acho que é isso que faz os povos mais fortes, como esse amigo meu, que lutava contra uma saudade monumental da terra e da família dele, mas não desistia das escolhas que fazia. Nunca. É assim que a gente deve encarar as coisas neste tempo de "desordem sangrenta" e "arbitrariedade consciente", para lembrar Brecht. É assim que a gente tem que ser.
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