O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Fabricada

Não sou feita de papel. Não me rasgo fácil e não sirvo de chapéu. Não sou feita de pedra. Não me erode a chuva e sou mais dura na queda. Não sou feita de plástico. Não me atrai o lixo e adoro o realístico. Não sou feita de açúcar. Não me dissolve a água e sou amarga na luta. Não sou feita de sal. Não me eletriza o cobre e sei ser doce afinal. Não sou feita de aço. Não me enrijece o coração e derreto no mormaço. Me diga feita de flores, das orquídeas que colorem os jardins, das trepadeiras que se agarram a um fim, dos cactos que se firmam nos confins. Me diga feita de mãos que eu estenda enfim, de pés por que ande assim, de corações que me digam sim. E me diga feita de amor porque é o amor que lhe alimenta... e a mim.

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