O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Insandices

Praticidade nunca foi a minha praia.
Na verdade, já foi... mas deixou de ser.
Não foi à toa que me surpreendi quando escolhi a Rosane. Na época procurei duas profissionais: uma, do TCC, e a outra da psicanálise. A Rosane me disse que o TCC era mais rápido, e que a psicanálise nos torna "dependentes da terapia".
A dúvida era inevitável: rápido demais, capitalista demais. Conspiração de recém-egressa - traumatizada - do mundo político-estudantil, em que pensamentos do tipo "tudo é culpa do capitalismo" são inevitáveis.
Daí a primeira cura: ultrapassar tabus criados pela minha própria imaginação.
Escolhido o caminho, tudo correu bem. Recebi alta, depois voltei a ir toda semana, depois recebi alta de novo.
Mas antes da regressão ao tratamento semanal tive um incidente: marquei sessão para a quarta-feira imediatamente anterior aos eventos de formatura. Mais precisamente, a missa era no dia seguinte.
Não preciso dizer que esqueci com-ple-ta-men-te a Rosane. Quando lembrei, já era a hora de terminar a sessão. Não por isso deixei de ligar para perguntar se eu podia passar lá e pagar pela hora de trabalho perdida. E, como ela tinha um horário livre, me convidou a fazer a sessão mesmo assim. E fiz.
Nada demais. Momento de esquecimento isolado. Desses que decorrem do desespero de não ter comprado as bijuterias nem a calcinha e o sutiã que não marcassem o vestido da festa.
Na época da segunda alta, mudei de rotina. Horário maluco, um monte de burocracia pra resolver, curso...
Esqueci uma vez. Ela me ligou logo depois do horário da sessão. Marcamos pra outro dia, eu fui, pedi mil desculpas e paguei.
Duas semanas depois, eis que um dia, às onze da noite, me lembro de que deveria ter ido à terapia às nove da manhã.
A vergonha era tanta que cheguei a ficar ansiosa pra me desculpar! Mas está tarde! Já sei, torpedo! Ih! O celular tá sem crédito! Guilherme, posso mandar um torpedo do seu telefone?! Ufa!
No dia seguinte, na ligação que não podia faltar marcamos pra semana seguinte, quinta que vem.
Moral da história: a distração é porque não preciso mais da terapia ou preciso ainda mais da terapia por causa da distração?
O TCC resolve.

Um comentário:

Anônimo disse...

As duas coisas. Te amo!