O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

domingo, 5 de junho de 2011

Antiheróis?

Episódios como os desabamentos em Angra dos Reis, a famigerada enchente do 06 de abril de 2010, as chuvas na Região Serrana e o incêndio na Cidade da Música mostram que os bombeiros não salvam só nossas vidas: salvam também o nosso direito de enterrar nossos mortos e até nossa cultura.

Não é pouca coisa.

Por isso que quando eles exercem seu ofício são inúmeras as reportagens que focam as câmeras em seu trabalho, mostram a emoção do salvamento - com direito a choradeira e tudo - e os homenageiam como verdadeiros heróis. Por isso que quando precocemente eles morrem trabalhando são enterrados com honraria.

A beleza da profissão, porém, não é ser voluntária, mas simplesmente ser.

Quando eles perceberam que "tapinhas nas costas" e enterros com honraria não colocam comida na mesa, - e foi tarde -, resolveram lutar por um slário mais digno e condições de trabalhos menos arriscadas.

Agora não eram mais heróis e seus cavalos não falavam inglês. O conto de fadas acabou: de heróis a antiheróis? Não, a categoria literária agora já não lhes encaixa mais tão bem.

Agora eram bandidos, assim tratados contra todas as evidências de que exerceram sempre seu papel com competência e beleza, arriscando suas vidas e, de quebra, a de suas famílias. Agora eram equiparados ao tráfico de drogas - tido por muitos como um grande demônio social - numa estratégia de combate guerrilheira. E depois eram enfileirados quase como os sobreviventes do Carandiru - com a diferença de que não estavam nus.

Que mal há nisso? Afinal, são quase todos pretos. Não precisam comer nem se vestir, nem seus filhos ou suas esposas. Não têm, pois, motivo para exercer o direito constitucional de greve.

É o que dizem as autoridades.

Como cidadã, não posso concordar com isso. Posso precisar deles amanhã e me deparar com um efetivo de menos 439 homens, como quer o governador. Ou até tê-los à minha disposição, mas desmotivados.

Creio, Senhor Governador, que este é o verdadeiro pensamento da população... mas está manipulado por uma cobertura jornalística global para se manter escondido num cantinho esquecido de sua mente.

Deveríamos pensar nisso...

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