Quero a vida e um fim de tarde com café no campo, onde eu possa respirar ar puro e plantar tomate na horta.
Mas antes, quero a vida e uma montanha-russa, para encarar o vento e sentir medo de altura, pensar que é ali que a vida acaba e querer viver um pouco mais e melhor.
Quero me perder na noite de Buenos Aires e depois escalar os Andes, atravessar o Pacífico e visitar arquipélagos, depois partir para a Torre Eiffel e para o Coliseu.
Quero a vida e a confusão de sentir saudade e felicidade ao mesmo tempo, viver uma grande paixão, depois um grande amor e aí um grande fim.
Quero ver o sol se pôr no Arpoador, no Pelourinho e em Genipabu, e visitar Yanomamis para ver o mesmo filme ao lado deles.
Quero ser o fim da guerra e o início do paraíso, onde se ganham pão, água, vinho e um templo para orar, seja lá qual for o Deus em que eu acredite.
Quero ver o mar, a terra, as árvores, os pássaros e os peixes, e quero ver o homem na selva... a verdadeira selva, não a que ele construiu.
Quero ir a Angola e colher depoimentos de guerra, ver a reconstrução e andar de transporte coletivo.
Quero sumir da vida das pessoas que conheço e conhecer outras, depois também sumir da vida delas, até sumir do mundo de vez.
Quero ouvir música no ônibus, carregando mochila a pé, e à fogueira numa praia qualquer, em qualquer lugar do mundo, para dançar em volta dela com uns poucos e bons companheiros.
Quero a saga de ser deusa, mas mortal, para me infiltrar nos mitos gregos e fazer deles realidade, ver a tragédia que pode causar o amor e a alegria que pode trazer a esperança.
Quero a vida e um pouco de chocolate, para sentir prazer e ter paladar, porque não se sente mais o sabor das coisas neste mundo.
Quero a vida, beijo e lascívia, pura como o véu e carinhosa como a brisa. Quero a brisa...
Quero a vida, a brisa e um pouco de saúde... porque assim poderei morrer de viver mais do que pude.