O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Minha vida, meu minuto de vida.
Minuta da minha vida.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A cena


Faz pouco quebramos a cabeça com a santa ceia. Mil peças, uma por uma, encaixadas ao longo de uma semana tormentosa.
Não sou dada aos ensinamentos bíblicos - nunca os li de verdade - e creio penso até que, de regra, minha mania de enxergar o mundo historicamente jamais me permitiria ver naquela cena algo além de um quadro que, ao longo de muitos anos, assumiu variadas interpretações.
A minha sempre foi a de um homem que prenunciou subversivamente, antes mesmo do mercantilismo, o manifesto de 1848.
Que digam os políticos, historiadores, filósofos, teólogos e afins que é isso?! heresia histórica, epistemológica, paradigmática! Penso mesmo que a história se repete, embora, é verdade, de maneiras distintas.
Que digam os religiosos que é isso?! heresia! A eles, que têm o direito de crer, tenho procurado incessantemente uma justificativa.
E nessa busca talvez tenha encontrado naquela cena algo além de um objeto de múltiplos olhares.
A diferença entre a cena e o prenunciado manifesto é que, em vez de clamar para que os Homens pegassem em armas, aquele homem repartiu entre eles o pão, esperando e instigando, com o dom da palavra, que fizessem o mesmo.
Está aí a beleza da santa ceia neste mundo de hoje: cada peça, um milésimo da cena; e as peças, unidas umas às outras, a cena inteira, linda como deveria ser.
Chegará o dia em que o prenúncio se concretizará - a igualdade e a solidariedade entre os homens.
Enquanto isso, a cena segue fixada à minha parede e à minha história.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Dear friend


Engana-se quem diz que o homem não é capaz de amar.

Amar é fácil. Tão fácil quanto impor condições ao amor.
É isto o que me entristece: saber que jamais verei no homem um amor incondicional.
Mas é também o que me alivia: lembrar que, dentre tantos homens, fui dos poucos que experimentaram um amor que por nada se interessasse senão por um punhado de comida e um pouco de paz no sono.
Eu, homem, sem amor incondicional, não tive paz no sono: sonhei que você ia num ônibus para bem longe e me abandonava no meio da rua.
Agora eu sei que você subiu de verdade naquele ônibus.
Mas o seu amor, incondicional sempre, guardo dentro de mim... porque sei que na humanidade jamais hei de encontrá-lo outra vez.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Quem disse que mineiro come quieto?

Quinta-feira, Mari ia contando sobre como andava sua vida quando chegamos ao sinal aberto, aquele que se atravessa do fórum até a Av. Erasmo Braga.


- Onde fica o metrô mais próximo daqui?, perguntou uma moça.


Solícita, Mari respondeu que estávamos indo para lá, e a mulher resolveu nos seguir.


Fechado o sinal, começamos a andar, e a moça resmungou:

- Gente, nunca vi trânsito igual!, tudo isso é "só" por causa daquela confusão na Central? – como se a confusão na Central fosse pouca coisa.

- Olha, a Central até ajuda, mas esta cidade é assim mesmo: choveu, para tudo... – respondi.

- Ah, então eu não sei como vocês conseguem morar nesta cidade porque eu não aguentaria porque eu nasci aqui mas fui pra Minas bem nova nunca mais voltei e agora tive que vir pra cá por causa de um evento e eu estou sofrendo aqui porque em Minas não tem esse trânsito agora você vê pra ir pra Jacarepaguá eu tenho que pegar metrô um ônibus em Copacabana e depois outro ônibus na Barra e eu sofro com isso porque em Minas não é assim porque em Minas eu chego em qualquer lugar de ônibus sem perigo nenhum porque essa violência do Rio de Janeiro...


Nisso, interrompi a moça porque Mari  tinha me abandonado pra eu ouvir sozinha aquele monte de ladainha e já estávamos atravessando para o Buraco do Lume quando a moça virou pro lado contrário:


- O metrô é pra cá, senhora.


- Não, vou pegar o ônibus aqui mesmo porque não dá pra pegar metrô ônibus depois outro ônibus porque é muito cansativo pra mim que estou acostumada com Min...


E, conforme íamos nos afastando, não ouvíamos mais aquela voz ao longe. Mas ríamos de longe, porque no Rio, minha senhora... no Rio se ri de tudo. Até do trânsito... e de longe.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Casa dos Mortos

O último post do Antiblog de Criminologia (link ao lado), de Salo de Carvalho, prestigiou o documentário A Casa dos Mortos, da diretora e antropóloga Débora Diniz, que mostra a realidade dos manicômios judiciais.

O roteiro inicial do filme foi adaptado para contemplar um poema de Bubu, que possui uma história de 12 anos de passagens pelos hospitais psiquiátricos, escrito simultaneamente às filmagens.

A película é curta, mas objetiva e sensível.

Valia postar o vídeo e o poema, logo abaixo.

 

A Casa dos Mortos
Bubu

A casa dos mortos
das mortes sem batidas de sino.
- Cena 1 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;
é que aqui é a casa dos mortos!
***
A casa dos mortos
das overdoses usuais e ditas legais.
- Cena 2 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;
é que aqui é a casa dos mortos!
***
A casa dos mortos
das vidas sem câmbios lá fora.
- Cena 3 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;

é que aqui é a casa dos mortos!
***
Prá começo de conversa, são 3 cenas,
são 3 cenas anteriores e posteriores
às minhas 12 passagens
pelas casas dos mortos,
que são os manicômios;
- tenho - digamos assim ! -
surtos de loucura existencial brejinhótica,
relativos à minha cidade natal,
Oliveira dos Brejinhos - Bahia - Brasil;
voltando às cenas:
... cenas que, por si sós,
deveriam envergonhar os ditames legais
das processualísticas penais e manicomiais;
mas, aqui é a realidade manicomial!
***
Pois, bem: são 3 cenas,
são três cenas repetidas e repetitivas
de um ritual satânico-sacro
com poucos equivalentes comparados de terror,
cujo estoque self-made in world
é o medicamentoso entupir de remédios,

o qual se esquece de que
A Era Prozac
das pílulas da felicidade
não produz A Era da Felicidade
da nossa almática essência de liberdade;
mas, aqui é a realidade manicomial!

***
E, ainda sobre as 3 cenas:
são 3 cenas de um mesmo filme-documentário:
Cena 1, das mortes sem batidas de sino;
Cena 2, das overdoses usuais e ditas legais;
Cena 3, das vidas sem câmbios lá fora
- que se reescrevam, então,
Os Infernos de Dante Alighieri;
mas, aqui é a realidade manicomial!
***

Reporto-me às palavras de um douto inconteste,
um doutor que rompeu o silêncio,
o jornalista Jânio de Freitas,
do jornal A Folha de São Paulo:
"A psiquiatria é a mais atrasada das ciências"
- Parafraseio Jânio de Freitas
porque a casa dos mortos,
que é a metáfora arquitetônica
pela qual designo a psiquiatria,
pede que se fale
contra si mesma!
***
E, por falar, também, em lucidez,
sou lúcido e translúcido:
a colunista-articulista Danuza Leão,
no jornal baiano A Tarde, explica:
"Lucidez é reconhecer
a sua própria realidade,
mesmo que isso lhe traga sofrimentos."
Mas, qual, ó Bubu!:
isto aqui é a casa dos mortos,
e, na casa dos mortos,
quem tem um olho é rei,
porque esta é a máxima e a práxis
da casa dos mortos.
***
Hospital São Vicente de Paulo /
Taguatinga - Distrito Federal - Brasil, abril de 1995:
o laudo a meu respeito (eu Bubu)
é categórico e afirma sinteticamente:
"O senhor Bubu é perfeita e plenamente lúcido!".
Mas, é que lá a psiquiatria é Psiquiatria Federal,
com P maiúsculo,
de propriedade patenteada
e de panteão da civilização;
enquanto que, aqui na Bahia,
a psiquiatria é psiquiatria estadual,
com p minúsculo,
de pôrra-louquice
e de prostíbulo do conceito clínico
(não custa nada afirmar:
eu Bubu fui absolvido
pela Psiquiatria Federal,
e eu Bubu fui condenado
pela psiquiatria estadual
- eis o mote da minha história!)
***
Isto é um veredicto!
- tomara que fosse um ultimatum
à casa dos mortos!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Alta

Dolly vem pra casa hoje. Agora torçam para ela querer comer...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Be good...


Minha Dollycão tá no hospital. Torçam por ela...