O outro

Mania humana: enxergar no outro o diferente. Exercer nele todo tipo de discórdia. E julgá-lo moralmente sem despir-se da própria moral. Ignorar suas qualidades, somente pelos seus defeitos. Fazer dele escravo do mundo. Ser-lhe indiferente. Encará-lo como pedra: o concreto que ergue "estranhas catedrais". E buscar em Deus legitimidade para isso.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

As mulheres sabem...

Aproveitando o ensejo do aniversário...
é impressionante como uma pessoa que nunca se preocupou com nada que dissesse respeito à vaidade, que sempre comeu o que há de menos e evitou o que há de mais saudável, que nunca fez exercícios físicos para manter a forma - no máximo para se divertir - que sempre bebeu muito, que nunca passou hidratante no corpo, nem protetor solar ou coisa que o valha, que nunca usou perfume e sempre andou largada, com saiões ou shorts e chinelo, que poucas vezes se maqueou e nunca se preocupou com celuilites e estrias ,do nada passa a ir ao dermatologista para tratar as manchinhas da pele com ácido e protetor solar, ir à academia para emagrecer, pensar em usar creme hidratante no corpo e comprar uns outros para evitar rugas - afinal, em pouco tempo você vai chegar nos trinta - e etc...
Você pode até me dizer que com 24 anos a pessoa é nova demais pra ter esse tipo de neura.
Mas, considerando que a vida não é muito simples e que, quando mal fecha uma etapa já tem que emendar na outra igual uma doida e daí as rugas podem mesmo começar a aparecer; considerando que os anos de banho de sol irresponsável causam mesmo as manchinhas na pele e considerando que, quando a gente é mais nova, vê a nossa mãe também com 24, 25 anos fazendo a mesma coisa...
olha, sei não, hein?! Acho que é melhor eu me cuidar!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Tenho tido dificuldades pra escrever aqui. Não que não haja assuntos ou que minha vida seja um marasmo. Na verdade, acho mesmo que é a felicidade - de ter o Zé e o meu trabalho, de ter os amigos, apesar da minha falta de tempo... Acho que é ela que tem me subtraído a inspiração. Não que me julgue alguém digno de dizer que se inspira em algo e se torna o que alguns se tornaram - Machados, Vinícius, Mários, Clarices... O que quero dizer é que nada mais me causa perplexidade, nem tristeza, nem angústia, nada. Só felicidade. E é nessas horas que eu descarto o romantismo e vou direto ao desejo de dizer alguma coisa, mesmo sem doença, mesmo sem amor proibido ou não correspondido, mesmo com o verão, a primavera e tudo o mais... Podia escrever sobre todos os absurdos que estão acontecendo no Oriente Médio e sobre tudo de errado que tenho visto enquanto trabalho. E como o trabalho me proporciona enxergar tantas injustiças e deslealdades! Mas, não sei se por egoísmo ou até medo de ser antiética, nada disso tem me inspirado não. E por isso mesmo fiquei surpresa outro dia, lendo uma matéria no jornal. Por coincidência - e logo percebi porque tem gente que faz da escrita o logotipo -, era de um ex-colega de trabalho. Essa coisa de você nostalgiar não necessariamente o que viveu com as pessoas no passado, mas pelo menos o que conviveu... Isso me fez querer saber por onde andava esse colega. - Ando onde há espaço, ele me respondeu. Não sou boba. Não me arrisquei em retrucar. Mas era essa a inspiração - e talvez o conhecimento - que me faltava agora.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O castelo do Edmar

Vou dizer uma coisa. Quando bati o olho na capa do jornal e vi a notícia do castelo do Edmar eu nem fiquei chocada, que é isso que a gente espera mesmo de 90% - para não generalizar - dos congressistas. Mas até ali eu só tinha batido o olho. Lendo mesmo, fui saber que o Ministério Público estava movendo uma ação coletiva e pedindo pra bloquear o castelo, porque o Edmar tinha umas dívidas trabalhistas naS empresaS (isso mesmo, no plural) dele. Então: 1) o cara tem um castelo; 2) o cara tem algumas empresas e 3) pra completar a caradura, o cara tá devendo verba trabalhista! Na boa, se é pra fazer isso, pelo menos escolhe um castelinho menos brega, né?!
Preciso dividir um momento da minha vida com as pessoas: voltei a ter meu cantinho no trabalho. É uma mesa bem grande com luz individual e tudo! Ufa!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Alcunha

Resolvi contar - aos poucos que ainda não sabem, mas permanecem curiosos - o porquê de o endereço deste blog raramente visitado ser www.fepeixinho.blogspot.com. É bem mais fácil explicar por que eleé raramente visitado (por causa do endereço, obviamente), mas tenho que fazer o contrário.
Não preciso dizer que Fê vem de Fernanda.
Peixinho... Bem, peixinho é assim: se você não acredita em coincidências vai passar a acreditar agora.
É que um tempo atrás chegou aqui na rua uma menina nova. O nome? Fernanda. Todo mundo chamava a guriazinha de Fê. Você sabe como é irritante ouvir seu nome, atender a criatura que está te chamando e descobrir que ela não estava te chamando, mas o seu homônimo.
E aí eu disse: é o seguinte! Essa mina tem que ter outro apelido! E me perguntaram por que ela e não eu. Simples: eu cheguei primeiro. O nome fica comigo. O apelido com ela.
Até que ela ficou bem na fita: Nanda.
Pois bem... Muito tempo depois, eis que estávamos dormindo no gabinete do diretor da faculdade, conheci outra Fernanda (a Lage da história da OAB que eu contei aqui no blog um tempo atrás).
Então a saga se repetiu.
- Fê!
- Ãhn...
- Não, é com a Lage que eu tô falando.
Dessa vez eu não fui boba nem nada, porque se inventasse que alguém tinha que ter apelido era eu que ia sofrer, porque ela tinha a prerrogativa do nome.
Mas alguém teve a idéia. E o consenso foi o mesmo: a primeira fica com o nome e asegunda com o apelido.
E ficaram dias a imaginar como me chamar. Alguém sugeriu de usar o sobrenome.
Agora, imagine você alguém me chamando de Peixoto por aí:
- Ô, Peixoto, chega aí, rapidinho!
Em certas circunstâncias (e faço questão de frisar isso, senão a família vai me estrangular), me chamar de Peixoto seria como chamar um bêbado no bar.
E se lembraram que eu andava levando pra servir de travesseiro no gabinete uma almofada em forma de peixe, que nem existe mais e que eu tinha ganho no aniversário de quinze anos. Quando soltaram essa, o outro consignou que eu era pisciana. Um terceiro disse que lambrava o sobrenome, porque também começavacom PEIX...
Eu sou peixinho...
E não é que a alcunha não me caiu mal?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CHILE IV - A aventura

Contaram dos lagos, mas não contaram dele. Nem precisava. Ele se conta por si só. Pelo menos foi assim quando seguimos a dica daquele lugar, que muito nos empreguiçou de ir, porque eram dez horas de viagem a ônibus. E, depois de todas elas, chegar às sete da manhã e procurar pela hospedagem nos privou de buscá-lo na paisagem. Também nem adiantaria. O dia estava nublado e assim permaneceu até o pôr do sol. O máximo que conseguimos ver, umas cinco da tarde, foi aquela faixinha branca logo abaixo das nuvens... que talvez, assim de longe, não correspondesse nem à espessura do meu dedo mindinho. Durante algum tempo chegamos a cogitar a teoria de uma conhecida, que disse que esteve lá e jamais o viu e que o máximo que conseguiu foi um cartão postal entregue pela dona da pensão para provar-lhe que ele realmente existia, mas estava escondido atrás das nuvens. Mesmo assim ela duvidava. No dia seguinte as nuvens ainda o encobriam, mas já havia esperança de enxergá-lo por inteiro. Também pensamos que isso não aconteceria. Ainda assim havia sorrisos porque os raios solares, agora reluzentes de verdade, daquele jeito sobre a neve já faziam valer a pena. Isso não nos tornou menos curiosos. Talvez, pelo contrário, ele nos instigasse mais como parecesse que se escondia para provocar. Uma colombina que prostrava o rosto atrás do leque e mostrava só os olhos ao que a desejasse. Após o banho vinha o passeio noturno, que, lá, ainda é diurno, pois escurece lá pelas vinte e duas. E quando saímos da hospedagem então a última nuvem só cobria o topo. Mais nada! Estava ele quase inteiro a se desinteressar pelos esconderijos. A cena era comum na rua: todos parados à espera de uma aparição sem precedentes até então. Todos na expectativa de a colombina mostrar o rosto enfim. E nos sentamos num banquinho... ali ficamos por longos minutos, não sem a máquina fotográfica às mãos, aguardando a exibição completa. Faltou muito pouco. Mas não foi em vão. Um dia depois, finalmente, lá estava ele: vivo, lindo... imponente! Não que a imponência se fizesse presente pela arrogância de sua beleza. Mas pela beleza. E só. E ainda pela onipresença, pois onde quer que estivéssemos podíamos vê-lo com toda a clareza... dele e do sol, que agora derretia o gelo. A idéia de subir não foi de imediato aceita. Era preciso respeitá-lo, como quem respeita a um ancião. O fato de ele estar vivo e, obviamente, de estarmos fora de forma causava certo receio. Mas fomos porque, se estávamos ao pé dele, por que não alcançar seu topo? Pelo respeito mesmo, preferimos economizar quatrocentos metros de subida, que fizemos de teleférico – o único que foi reconstruído depois da última erupção, em 1984. Havia pegadas neve acima e o lema era step by step: não olhe senão para o caminho à sua frente. O grupo se dividiu entre os aventureiros, que fizeram todo o percurso a pé, os preguiçosos rápidos e os preguiçosos lentos. Estávamos entre os lentos. Mas foram os lentos que se apoiaram cem por cento do tempo e, embora tenha havido uma desistência no meio do caminho – que na verdade era noventa por cento dele –, não fossem eles, eu jamais teria alcançado aquela imensidão. Os joelhos, no fim, já gritavam de dor. As costas sentiam cada passo e o chicote do guia continuava susurrando nos meus ouvidos: step by step... Chegar lá em cima depois de quatro horas de caminhada, um quilômetro de subida e vários de percurso em zigue-zague dá-cala-frios. E coceira na garganta porque os gases não lhe poupam. Dali se viam os Andes, as cidades próximas, os lagos e os parques. Tudo nas respectivas cores, sem sinais de destruição humana. E quando as nuvens se misturaram a reação química ficou rubra. Cena indescritível. As lições que o Vulcão Villarica me deixou ninguém me tira. Superar limites é possível. Um grupo unido pode mais. A beleza de um ser nunca é venenosa... E descer de esquibunda é muito divertido!